Se você ainda faz vista grossa em relação à violência sofrida pela mulher, é mais do que hora de mudar seu posicionamento. E não digo isso porque amanhã ou depois uma mulher perto de você pode sofrer violência. Apesar de que, infelizmente, essa é a realidade.
Quando o assunto é violência contra a mulher, não adianta mais se justificar pelo dito popular de que em briga de marido e mulher, não se mete a colher.
Basta dar uma olhada rápida nos noticiários da TV ou nas reportagens da internet: a violência contra a mulher está sempre presente. E, se você desconfia que não é tudo isso, existem as estatísticas que não me deixam mentir.
A época da pandemia foi difícil para todos em vários aspectos, mas trouxe enorme impacto quando o assunto é a mulher vítima de violência doméstica. A ONU chegou a chamar o período de isolamento de uma Pandemia das Sombras, em referência às mulheres e meninas que se viram isoladas em suas casas junto a seus agressores, afastadas de suas redes de apoio.
Apesar dos números serem maiores quando se trata da violência doméstica, a violência de gênero também cresceu. Um exemplo disso são as mulheres e meninas refugiadas, que passaram a correr maiores riscos durante esse período.
Seria possível discorrer sobre uma dúzia de números, estatísticas e impactos que a pandemia trouxe. E talvez nenhum desses números sejam suficientes para quem ainda acredita que não é um problema seu, ou que está tudo bem quando ela mesma não sofre ou já sofreu com a violência. Afinal, são apenas números.
Mas é exatamente por causa disso que vamos falar sobre a relevância do Dia Nacional da Luta contra a Violência à Mulher, instituído no Brasil em 10 de outubro.
A escolha da data não foi aleatória, é um desdobramento do movimento de mulheres que se reuniu nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, em 10 de outubro de 1980, para protestar contra o aumento de crimes contra as mulheres no país. A data se tornou um marco na luta contra a violência a mulher desde então.
A importância da data para a sociedade
A violência de gênero ocorre de diversas formas e, muitas vezes, algumas que sequer são percebidas, porque já estão enraizadas culturalmente e socialmente. Assim, quando falamos em silenciamento das mulheres, não se trata de mera figura de linguagem, a violência é real e pode ser traduzida em alguns dados:
- Uma menina ou mulher é estuprada a cada 10 minutos;
- A cada dia, três mulheres são vítimas de feminicídio;
- Aproximadamente 26 mulheres sofrem agressão física por hora;
- Uma travesti ou mulher trans é assassinada no país a cada dois dias;
- Até julho de 2022, o Brasil teve mais de 30 mil denúncias de casos de violência doméstica.
O mapa da violência contra a mulher é o retrato da sociedade em que vivemos. A violência contra a mulher não ganha força apenas pelo medo imposto sobre as vítimas, que as silencia. Mas também por todos aqueles que veem e escolhem fingir que não viram, que não sabiam, que não tem nada a ver com o que acontece sob outro teto (ou até sob seu próprio).
Por isso, a necessidade urgente em conscientizar a sociedade sobre os impactos da violência. Para além da violação dos direitos humanos, ser criminalizada e vil, ela traz consequências negativas para a mulher, a família e a comunidade como um todo.
A violência contra a mulher, seja de gênero, seja doméstica, pode acarretar em sequelas e danos físicos, sexuais, mentais e até levar à morte. O impacto não se encerra na saúde e vida da mulher, mas também de sua família, com despesas médicas e legais, nas perdas de capacidade de trabalho, impactando o orçamento familiar e pessoal. São impactos que, dado seu volume, impactam também a comunidade e o país.
Quais os tipos de violência sofrida pelas mulheres?
Dentro da nossa história, a violência contra a mulher ocorre, principalmente, dentro de casa. Trata-se de um fenômeno que não distingue classe social, raça, etnia, idade ou grau de escolaridade.
O que mais chama atenção nesse tipo de ataque é que para assegurar a própria proteção e, geralmente, a dos filhos, a vítima se cala. E não apenas isso, ela também é capaz de se colocar a favor do agressor, seja por medo, vergonha ou falta de recursos financeiros para se manter.
Quando ocorrem embates corporais, costumam vir de maneira gradual e sempre com um pedido de desculpas por parte do agressor. São promessas e mais promessas de que o fato não se repetirá, até que, claro, ele se repete e o ciclo reinicia.
Nesses dois últimos parágrafos, mais de um tipo de violência contra a mulher foi descrito. Apesar dela ainda ser muito relacionada às agressões físicas, não é a única forma de violência empregada.
Por isso, em diversos casos, é difícil para que a mulher note imediatamente que está sendo violentada, seja por acreditar que é apenas um momento ruim ou que é algo da sua cabeça. Ideias de que ele não faria algo assim ou que a levem a se desacreditar, como problemas pontuais pelos quais a família esteja passando, são corriqueiras.
E claro, nunca é demais lembrar que, apesar da maior incidência, a violência contra a mulher não ocorre apenas dentro de casa. Pode acontecer no trabalho, na rua, em instituições públicas ou privadas. Pode acontecer em qualquer local em que a vítima esteja sujeita a ser silenciada ou colocada em situação de desigualdade.
Para lhe ajudar a identificar os tipos de violência, confira a listagem a seguir:
Violência psicológica
O sentimento de aversão ou de posse contra a mulher pode gerar uma série de agressões psicológicas, como ameaça, manipulação, isolamento e humilhação. Essas situações podem gerar diversas restrições e proibições na vida da vítima, como estudar, sair de casa, falar com as pessoas ou mesmo crescer profissionalmente.
Nesses casos, muitas mulheres são perseguidas e atacadas com insultos, chantagens e ridicularizadas em público. Além disso, é comum que sejam desacreditadas e que haja distorção dos fatos emitidos por elas. Tudo isso corrobora para enfraquecer e colocar em dúvida sua capacidade mental e intelectual.
Isso não significa que as proibições e restrições, ou mesmo os ataques, vão ocorrer de maneira direta e clara. Muitas vezes a violência psicológica se faz através de atos velados, insinuações, manipulação, tudo sob o véu irreal de que tudo que o agressor deseja é o bem-estar da vítima. Seja numa relação amorosa, parental e familiar ou de trabalho.
Violência patrimonial
Quando se fala em violência patrimonial, ela está ligada ao fato de que a vítima é dependente financeira do agressor. Que, aqui, pode ser o seu marido ou companheiro, pai ou irmãos.
Na violência patrimonial, o agressor passa a controlar o dinheiro da vítima. E ele é sempre criativo: pode se tratar da própria renda compartilhada em casa, mas também versar sobre a pensão, a prática furto ou extorsão, causar danos propositais, privar a vítima de recursos econômicos e de bens dos quais ela e, havendo, seus filhos, necessitam para viver. Tais como documentos, moradia, medicamentos e itens básicos de alimentação.
Violência moral
A violência moral é representada pelos crimes de injúria, difamação ou calúnia.
O crime de injúria se caracteriza quando a ofensa realizada atinge a pessoa da vítima, relacionando-se às questões de decoro, honra e dignidade.
Já o crime de difamação ocorre quando é atribuído fato negativo à vítima, com o objetivo de afetar sua honra, de desacreditá-la em seu meio social, familiar ou de trabalho.
Por fim, o crime de calúnia ocorre quando o agressor atribui à vítima algum falso crime.
Importunação sexual
A importunação sexual também figura no rol de violências contra a mulher. Nesse caso, o agressor pratica, sem a anuência da vítima, atos libidinosos apenas para satisfazer o próprio desejo ou o de terceiros.
Essas são as várias faces da violência contra a mulher, capaz de estar presente em todas as esferas da sua vida pessoal e profissional. Por isso, é sempre importante lembrar:
Não silencie, denuncie!
É importante incentivar a vítima a denunciar seus agressores e fazer valer os seus direitos. Mas, além disso, ofereça apoio, suporte e, sempre, denuncie!
Um dos canais mais importante para a denúncia de violência contra a mulher no Brasil é o disque 180. Além desse canal, também é possível registrar a ocorrência em delegacias especializadas.
Para saber mais sobre assuntos relevantes e que impactam a nossa sociedade, continue acompanhando o blog Profissas!
