Discriminação, racismo e racismo estrutural com certeza são termos os quais você já se deparou. E, para entender o que é e como ser uma empresa antirracista, é importante que estes termos estejam consolidados no seu entendimento e de seus colaboradores.
Em termos gerais, a discriminação ocorre sempre que há distinção no tratamento ou nas oportunidades dadas a um empregado, por motivos relacionados à sua cor, aparência, orientação, gênero, etc.
Quando se trata do racismo, a discriminação acontece quando essa distinção é direcionada à um grupo racial ou étnico, que é tipicamente marginalizado ou é uma minoria.
Adentrando mais no tema, quando falamos em racismo estrutural, nos referimos às situações presentes, visível ou invisivelmente, na própria estrutura social de uma empresa, comunidade, cidade ou sociedade como um todo. O que, por si só, já indica sua relação profunda com o mercado de trabalho.
Mesmo diante de todo avanço das últimas décadas, as pautas relacionadas ao racismo ainda são extremamente necessárias nas mais diversas esferas da sociedade. Isso porque sua aplicação e efetivação continua sendo um entrave no combate ao racismo, já que muitas empresas e entidades cessam suas ações ainda na parte do discurso.
Por isso, diversas ações, a nível social, econômico, político, cultural e estrutural precisam ser implementadas para combater o racismo em suas diversas facetas. Em algumas épocas do ano o debate ganha mais força, dada às políticas e datas implementadas, mas vale o lembrete de que essas ações devem ser pauta durante todo o ano.
Novembro é o mês da consciência negra, data escolhida em razão do dia 20 de novembro ser o aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, que veio a se tornar também o Dia da Consciência Negra.
O período é um lembrete das ações que precisam ser implementadas e perpetradas durante todo o ano, tal como a reflexão sobre as desigualdades, permitindo a conscientização sobre o tema, e um ponto de partida para trabalhar em melhorias, adequações e mudanças.
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Consciência Negra: um movimento para discutir o racismo e implementar a inclusão
Como já apontado, o Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado no Brasil no dia 20 de novembro. A importância dessa data se dá pela desigualdade que a pessoa negra vive no Brasil, quando se comparada a uma pessoa branca.
Para quem diz (e pensa) que tudo não passa de mimimi, é preciso olhar para a história do Brasil e do mundo. E, se isso não bastar, eis as estatísticas que não mentem: o problema é real e atinge milhões de pessoas em todo o país.
De acordo com informações do Ministério Público do Trabalho, no ano de 2019, trabalhadores negros receberam um salário médio de R$2.200,00. Enquanto isso, a média salarial dos profissionais brancos foi de R$4.000,00.
Outro aspecto que chama bastante atenção é a segregação racial, que traz seu retrato na ocupação de cargos de direção. Apenas 29% dessas vagas são ocupadas por pessoas negras.
Dados publicados pelo IBGE também indicam que os negros representam 64,2% da população desempregada; 66,1% dos trabalhadores subutilizados e, em ocuações informais, o percentual é de 47%.
Olhando para além das estatísticas do mercado de trabalho, basta utilizar uma lupa para perceber como o problema funciona in loco. A discriminação em função da cor do profissional tem várias formas que não se restringem às questões salariais e de distribuição de cargos.
De acordo com um levantamento realizado pela Kantar, 25% das pessoas negras se sentem assediadas ou intimidadas no ambiente de trabalho. Porém, cerca de 67%, relata que não se sente à vontade para reportar as agressões aos seus gestores. E há de lembrar que, muitas vezes, as agressões partem dos próprios gestores.
Diante disso, não há que se questionar o fato de que existem diversas desigualdades que precisam ser erradicadas no meio de trabalho. Para isso, é necessário abrir espaço para a diversidade e para a troca de ideias e experiências. E, é certo, sem esquecer que agir de fato é primordial, afinal, mudanças não acontecem apenas com ideias no papel.
O que é ser uma empresa antirracista?
Durante muitos anos, a sociedade foi omissa quando o assunto envolvia situação de conflito causada pelo racismo. Ou seja, quando um colega branco dizia frases preconceituosas a um homem ou mulher negra, as demais pessoas se calavam ou se afastavam, como se o problema não fosse deles.
Na verdade, não podemos dizer que isso não ocorra mais, porque, na verdade, ainda é a realidade de muitas pessoas negras. O detalhe é que esses contornos agora, muitas vezes são mais sutis, com ações e falas indiretas, que prejudicam e agridem as pessoas.
Mas é preciso parar de pensar que o racismo é um problema exclusivo das pessoas negras. O preconceito racial diz respeito a todos nós.
Vivemos em uma sociedade conectada, e, para além dos direitos à vida, dignidade, respeito e oportunidades igualitárias, funcionamos como um único organismo. O que afeta um, afeta o todo.
Se a sua empresa faz vista grossa para situações de racismo, é preciso entender que esses atos não afetam apenas à saúde e qualidade de trabalho individual da vítima, mas de toda a organização. O racismo é capaz de prejudicar, por exemplo, a retenção de talentos, o clima organizacional e até nos lucros.
Por isso, ser uma empresa antirracista, passa por diversas esferas de seu funcionamento e estrutura. Indo desde ações de conscientização, até práticas de combate ao racismo e punição aos infratores.
Para saber quais as medidas iniciais para que sua empresa seja efetivamente antirracista, selecinamos 5 ações capazes de fortalecer o combate à discriminação e à desigualdade. Veja!
1. Não desmereça o racismo, ele é real!
Fazer de conta que o racismo não existe só reforça o preconceito. Por mais que isso possa parecer para alguns uma postura bem-intencionada, que seja destacada: ela não é! Colocar panos quentes para evitar discussões mais acaloradas ou aprofundadas, não diminui a intolerância em relação a cor e a raça. Muito pelo contrário, isso as solidifica.
Quando uma pessoa negra expõe sua dor ou indignação, fala sobre experiências que são compartilhadas apenas por pessoas com as mesmas características que as suas. Seja em relação à sua vestimenta, cor da pele, textura do cabelo ou capacidade intelectual.
O exercício aqui é para além da prática da empatia. É necessário ter um sistema apto a ouvir de maneira acolhedora e que seja capaz de tratar as demandas com a importância real com que precisam.
2. Repense hábitos preconceituosos
Alguns hábitos estão tão enraizados na nossa cultura, que, mesmo sendo preconceituosos, se disfarçam como comuns.
Um bom exemplo é a questão da linguagem, já que muitas falas e expressões racistas são perpetuadas como naturais pelas pessoas. É certo que você já ouviu as palavras e expressões a seguir:
- negro de alma branca;
- ela é negra, mas é bonita;
- lista negra;
- mulata;
- ovelha negra;
- da cor do pecado;
- nasceu com um pé na senzala;
- a coisa está preta;
- não sou tuas negas;
- feito nas coxas;
- criado-mudo.
Essas são apenas algumas, mas todas elas possuem traços do racismo, adquiridos historicamente desde o período da escravidão.
Assim, as empresas devem combater esses hábitos através de campanhas educacionais, informando e educando seus colaboradores acerca do racismo que carregam. Da mesma maneira, é importante que sejam previstos modos de acompanhar se elas estão sendo efetivas no seu objetivo.
3. Racismo e lugar de fala
Para ser antirracista, é necessário apoiar o movimento, mas, ainda assim, é importante não se esquecer que o lugar de fala é dos negros.
Não adianta lançar uma campanha de combate ao preconceito e ter como protagonista um funcionário branco padrão. Ou, ainda mais importante, criar uma campanha que não teve a participação ativa de pessoas negras no seu processo de construção e execução.
Somente quem já viveu na pele a dicriminação racial é que é capaz de dizer como ela afeta as diversas áreas da sua vida. Por isso, a construção precisa ser plural, com o devido protagonismo negro, viabilizando assim, mudanças efeitivas. Cabe ao branco refletir sobre o assunto, reconhecer os próprios privilégios com os quais foi beneficiado por essa construção social.
4. Apoie pessoas negras
O apoio a pessoas negras é um importante passo para combater o racismo.
Além de buscar maior representatividade desse grupo para a sua empresa, é necessário executar ações que dê a eles maior visibilidade. Isso vai desde a abertura para compartilhamento de ideias, como o apoio à promoção na empresa ou o financiamento de cursos e viagens correlatas.
5. Denuncie o racismo
Incentive os colaboradores a denunciarem atos de injúria racial, seja como vítima ou testemunha. Além de punir o autor, afinal, racismo é crime, é possível construir estratégias efetivas para combater a discriminação.
A pauta antirracista é extensa e deve ser discutida de maneira permanente, durante todo o ano. Assim, dispor das informações corretas ainda é a melhor maneira de combater o preconceito e a discriminação.
Por isso, convidamos você a acessar o nosso GUIA PRÁTICO PARA SER UMA EMPRESA ANTIRRACISTA. O material é rico e visa celebrar o mês da Consciência Negra, levando para gestores e empresários conhecimento indispensável para aplicação das práticas no meio corporativo.