Todo ano é a mesma coisa: em dezembro, a gente participa de 515 confraternizações de fim de ano, 213 sorteios de amigo oculto, tem o Natal, com aquela comilança toda, depois vem o ano novo, com milhares de esperanças passando pela nossa cabeça e, no fim das contas, estaremos no início de um novo dezembro vislumbrando tudo de novo.
Aí, quem teve um ano incrível usa o fim do ciclo para agradecer e celebrar, enquanto quem não teve um ano muito bom começa a se perguntar onde foi que errou. Quem termina um ano bem pode ver mais motivos para começar o outro bem. Mas, quem termina o ano mal, tende a… passar toda essa festança amuado, achando que não foi digno de conquistar nada.
Pelo espírito natalino, eu deveria te dizer que você está exagerando, que não é bem assim, que ano que vem vai ser melhor, você vai ver. Mas, infelizmente, eu não tenho espírito natalino. Eu sou um Grinch com marquinha de biquíni. Portanto, não é isso que vou te dizer.
Vou te contar que, provavelmente, a resposta para sua chateação está naquilo que a gente faz, às vezes sem comprometimento real, nos 45 minutos do segundo tempo de dezembro: nossa lista de resoluções incríveis. E a culpa é nossa: substituímos a esperança em um ano melhor pela expectativa de um ano melhor, e, enquanto a esperança é a última que morre, a expectativa é a primeira a nos dar um tiro na cara.
Mudar de ano era, para os criadores do calendário, apenas uma forma de organizar colheitas. Pra sociedade que se formou desde então, parece ter se tornado o evento imprescindível para que todos os sonhos se realizem. É como se, ao badalar da meia noite de 31 de dezembro, as coisas mudassem magicamente, como a Cinderela ao avesso: ela perdeu o sapato e o vestido, e nós ganhamos os nossos.
Só que essa transformação momentânea da vida vem com três probleminhas básicos, que destroem todas as chances de termos uma lista de resoluções incríveis e aplicáveis. E é sobre eles que te convido a refletir hoje.
#1 Seja realista (tipo, realmente realista)
De 2003 para 2004, passei o ano novo com as amigas no Rio de Janeiro, na casa da tia de uma delas. Enquanto a gente foi pra Copacabana, a tia e as amigas da tia foram para uma balada espetacular, vestidas lindamente.
Defini, como resolução de ano novo, que eu iria a uma balada por mês. Levantei os nomes das principais baladas, os bairros, comecei até a escolher as roupas imaginárias – no corpo imaginário – da minha participação na noite de BH, que é onde eu moro. Só tinha um pequeno detalhe: em 2004, eu faria 17 anos. Nenhuma balada que eu selecionei me deixaria entrar.
Portanto, minha resolução de ano novo não iria se concretizar, gerando uma imensa frustração, simplesmente porque eu não fui realista o suficiente para fazê-la. Da mesma forma que não fui realista quando me matriculei em uma academia muito longe da minha casa sem ter carro, ou aventei a possibilidade de dar a volta ao mundo sem ter noção de como me planejar financeiramente para isso.
Algumas coisas que a gente bota na cabeça que vão acontecer não vão porque não são reais, seja porque os indicadores são improváveis ou porque não teremos como sustentá-las. Por isso, antes de colocar uma meta de ano novo na sua lista de resoluções para 2019, faça essas perguntas a você mesmo:
- Essa meta está sob meu controle?
- Eu tenho dinheiro para realizá-la?
- Como devo me preparar para conquistá-la?
- Quais são os recursos que ela exige de mim (financeira, física e emocionalmente)?
Se você passar pela primeira (afinal, se não está sob seu controle, tipo “ser tia”, nem coloque) e souber como responder as demais, sua meta tem grandes chances de ser realista. Mas saiba que, talvez, você terá que conquistar outras pequenas metas antes da resolução principal.
#2 Crie metas sabendo que elas exigem trabalho duro
“Esse ano eu vou juntar uma grana alta porque quero passar o Natal em Paris”. Você escreve isso em letras garrafais na primeira página da agenda e, de repente, vê uma promoção incrível de blusinhas, de R$599 a $99, e compra umas dez, para não perder essa oportunidade incrível. Ou resolve trocar de carro, quando o seu está em perfeito estado, e quitado, só porque já o usou por quatro anos.
Aí, aos poucos, o “juntar grana” vira “tenho muitas contas a pagar” e o Natal na França vai ficar para depois. Mas, ao contrário do que Casablanca fala, nós nem sempre teremos Paris. E é por isso que você tem que se decidir: ou dá duro nas resoluções ou para de se iludir com anotações em um pedaço de papel.
A mesma coisa vale para:
- se matricular na academia, se não estiver disposto a treinar bastante;
- a mudar de emprego, se não estiver afim de procurar e colocar sua cara a tapa;
- a nutrir relacionamentos, se não quiser sair do posto de alguém que está sempre certo;
- a comer melhor, se não tiver motivação para trocar o pacote de chips pelo saquinho de mini-cenouras.
Mudanças não são fáceis, e mudanças significativas são menos fáceis ainda. Conquistar é bom, mas não significa que não vai doer. Por isso, se você não estiver 100% certo de que sua meta é a realização do seu sonho, melhor nem tentar.
Além disso, algumas resoluções vão exigir mais tempo de comprometimento do que apenas doze meses.
Vou dar um exemplo: esse ano, coloquei como uma das minhas 18 resoluções (sou dessas, ano que vem vou colocar 18) “achar uma casa legal”. E achei. Achei o apartamento mais legal do mundo, aquele em que eu adoraria morar. Quando vi a planta, me enxerguei passando da sala pra cozinha, deitando na cama e vendo, no meu closet transparente, meu tênis preferido.
Resolução cumprida: achei uma casa legal. Mas ela custa um milhão de reais e, bem, eu tô contando moedinhas.
Fiquei feliz porque cumpri a minha resolução, que foi bem inespecífica, confesso, mas agora transformei em meta de vida: quero aquela casa, que fica pronta em dois anos. Como ninguém vai aceitar o pagamento em abraços e risotos, melhor eu me preparar para juntar a grana e comprar de quem vai comprá-la.
Estou falando de alguns anos perseguindo essa vontade, e pode ser que ela mude no meio do caminho (vou falar isso no item 3). O importante é que eu já sei que não posso colocar na lista de 2019 “comprar o apê dos sonhos”, porque ela não é realista no momento, e nem “ganhar na Mega Sena para comprar o apê dos sonhos”, que foge ao meu controle, mas posso colocar “juntar 20 mil reais até o fim do ano para aplicá-lo em um fundo de investimentos”, que é uma forma de começar a juntar dinheiro para a compra do apê dos sonhos.
O que isso vai me exigir? Que eu sonhe alto, e dê duro, se quiser chegar no fim do ano com minha meta cumprida.
#3 Esteja aberto as mudanças
Na mesma lista de resoluções para 2018 eu coloquei, no item 8: ter um iPhone X. Tive, nos doze meses que se passaram, duas claras oportunidades para realizar essa meta. Eu tinha controle sobre ela, tinha dinheiro, tinha até quem trouxesse pra mim de fora, mais barato, com a promessa de me dar a diferença da versão que eu queria para a top de linha como presente de casamento.
Tudo perfeito, exceto por uma coisa: eu parei de querer.
Isso significa que tá tudo bem se você chegar em dezembro e ver que não conquistou uma meta não porque ela não era realista, ou porque você não deu duro, mas, simplesmente, porque ela não significa mais nada pra você.
A realidade é que o que está na lista de objetivos para o novo ano não é um contrato. Ela pode estar recheada de esperanças, mas não pode carregar expectativas. Às vezes, ela não deve nem ser o final do caminho, mas o apontamento da estrada. As resoluções precisam motivar, e não derrubar a autoestima, de quem espera por elas.
Fazendo esse texto, vejo que, das 18 metas que fiz para 2018, cumpri 6. Doze ficaram pelo caminho. Algumas eram realistas, e eu dei duro, mas simplesmente não rolaram, porque fugiam ao meu controle. Outras não eram mais importantes, e, para outras, eu realmente não fiz o menor esforço.
E tá tudo bem.
Com essa frase, me despeço, provando que até o Grinch com marquinha de biquíni pode ser o agente que vai destroçar suas expectativas, mas te ajudar a ter um pouquinho mais de esperança. É tudo uma questão de perspectiva. 😉
Olá
Parabéns pelo seus textos, estou adorando lê-los, não sei se é a terapia opine ou um tapa na cara de realidades, mas estão me ajudando muito. Gratidão