As intensas transformações, aceleradas pela pandemia de Covid-19, demandam um mercado de trabalho cada vez mais preparado. Capacitação é indispensável na sociedade da reinvenção, marcada pela consolidação tecnológica e experiência do usuário. Diante de tal cenário, o que profissionais em busca de oportunidades devem fazer para identificar e adquirir competências e habilidades técnicas e comportamentais?
A crise econômica provocada pela necessidade de isolamento social alterou o formato das empresas, obrigando-as a incorporar de vez a tecnologia. É crescente o número de corporações que exigem conhecimentos na área. De acordo com relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, o déficit de profissionais no setor pode chegar a 260 mil até 2024.
Por faltar mão-de-obra qualificada, algumas instituições, conscientes de seu papel social, investem no treinamento de seus colaboradores. No entanto, a adesão aos chatbots, aplicativos, redes sociais, e-commerce e Omnichannel é insuficiente para atender à demanda de consumidores que exigem a humanização dos atendimentos. Surge, então, a necessidade de habilidades comportamentais nas diversas esferas de relações do trabalho, capazes de alicerçar o espírito de equipe e incentivar relacionamentos de excelência com os clientes.
A pesquisa Habilidades 360º América Latina 2020, da Assessoria de Recursos Humanos Page Personnel, revela que a procura por profissionais com soft skills triplicou durante a pandemia. O estudo mostra que cerca de 80% das demissões estão relacionadas à falta de habilidades comportamentais. Segundo o levantamento, 9 em cada 10 profissionais são contratados por requisitos técnicos e demitidos por falta de soft skills.
Você sabe por que as soft skills são tão importantes quanto as hard skills?
Engana-se quem pensa que formação acadêmica é suficiente. Ilude-se quem acredita não haver necessidade de adquirir novos conhecimentos. O que mais se vê nos grupos de vagas específicas de empregos são reclamações referentes às exigências das empresas que, diga-se de passagem, cobram muito e pagam pouco.
Habilidade é diferente de competência
De acordo com o dicionário, habilidade é a “qualidade ou característica de quem é hábil, ou seja, um indivíduo que tem a mestria de uma ou várias artes ou um conhecimento profundo, teórico e prático de uma ou várias disciplinas”. A palavra refere-se a alguém que “tem uma disposição de espírito e de caráter que o torna particularmente apto para resolver as situações que se lhe apresentam ou para agir de maneira apropriada aos fins a que visa; astucioso, sutil, manhoso; esperto, sagaz”.
Competência refere-se a “atribuição, alçada, conta; capacidade que um indivíduo possui de expressar um juízo de valor sobre algo a respeito de que é versado; idoneidade; soma de conhecimentos ou de habilidades; indivíduo de grande autoridade num ramo do saber ou do fazer; notabilidade”.
O que são hard e soft skills?
Hard skills são as capacidades técnicas, ou seja, habilidades que podem ser aprendidas. Elas são facilmente reconhecidas por constarem nos currículos, como, por exemplo, conhecimento em língua estrangeira.
Soft skills são habilidades relativas a personalidade e comportamento. Referem-se à forma como um profissional se relaciona e interage com as pessoas e, por isso, afetam a convivência no ambiente corporativo e, consequentemente, a produtividade da equipe. Daí a sua crescente valorização.
Conheça mais sobre as skills mais requeridas no século XXI.
Como desenvolver habilidades e competências?
Para ampliar competências e habilidades técnicas e comportamentais, o profissional precisa ter em mente que isso demanda tempo, dedicação e paciência. É possível realizar cursos, workshops, especializações, MBA’s e pós- graduações. Existe também uma infinidade de aulas, vídeos, livros, tutoriais, mentorias, webinars, treinamentos e palestras online que ofertam conhecimento.
Experiência no mercado de trabalho é outra forma de adquirir hard e soft skills, pois somente a prática favorece o verdadeiro aprendizado. A atuação continuada em diversas empresas e equipes desenvolve atributos pessoais e profissionais; cria a capacidade de enfrentar desafios e oportunidades para o surgimento de novas habilidades e competências.
Uma série de soft skills está por trás da possibilidade de adquirir conhecimentos
Para expandir seus conhecimentos, você precisa reconhecer seus pontos fortes e fracos. Somente com autoconhecimento será possível melhorar o que já está bom e trabalhar lacunas existentes, como, por exemplo, a necessidade de dominar um idioma estrangeiro.
É importante mensurar suas fragilidades e investir em autocuradoria, ou seja, na seleção de conteúdos relevantes ao crescimento pessoal e profissional. A gestão do tempo é imprescindível no processo de aquisição de conhecimentos. Que tal trocar horas inúteis em frente à televisão por livros, áudios, vídeos, filmes, cursos e mentorias?
Sem estratégia para definir com exatidão os pontos a serem aprimorados não há como investir em autoaprendizado. É imperativo identificar suas prioridades. E, ao contrário do que muitos profissionais e empresários pensam, não existem pessoas boas em tudo.
Seus esforços devem se concentrar em uma área específica, para aumentar as chances de resultados melhores.
Lembre-se: você não precisa ser o melhor para ser extraordinário!
A aquisição de competências está atrelada à capacidade de ouvir (essa é uma das soft skills mais requisitadas no século XXI, levando em conta que diversos negócios não são fechados pela simples incapacidade de ouvir). Profissionais dispostos a aprender com pessoas mais experientes ou não, conseguem acrescentar trabalhos valiosos à sua equipe. Valorize, ao máximo, cada oportunidade de aprendizado.
Aprenda com outras profissões
Entenda que todo trabalho traz conhecimento. Observe, reflita e aprenda com base nos próprios erros e acertos, ouça opiniões e críticas construtivas. Valorize sua condição no mercado e o que seus empregos anteriores lhe ensinaram em termos técnicos e comportamentais. O telemarketing, por exemplo, uma das profissões menos valorizadas e mais detestadas, mostra aos operadores a forma correta e direta de dialogar com os clientes, a importância da paciência e da capacidade de ouvir, entre outras qualidades necessárias ao bom desempenho.
Agregue skills
É possível levar experiências de uma profissão para outra. Veja o exemplo do norte-americano Chris Gardner, que se tornou empresário bem-sucedido, escritor, palestrante motivacional e filantropo. Detentor de uma capacidade incrível de superação, Gardner usou a habilidade de vendedor para conseguir um emprego melhor, mesmo que, por algum tempo, tivesse que trabalhar como estagiário, sem receber salário pelos serviços prestados.
O que diferencia você das outras pessoas?
A excessiva preocupação com as ferramentas técnicas para o mercado de trabalho impede que profissionais detectem habilidades natas, deixando de utilizá-las no mundo corporativo. O autoconhecimento permite identificá-las.
Existem colaboradores que facilmente encontram em si qualidades que os diferenciam dos demais, porém alguns não conseguem encontrá-las. Nesses casos é necessário apelar para a opinião de colegas de trabalho, chefes, amigos e parentes.
Sua profissão está onde o seu coração está
“O seu coração está onde o seu tesouro está. E o seu tesouro precisa ser encontrado, para que tudo possa fazer sentido”. A frase de Paulo Coelho vale para o campo corporativo, pois raras são as pessoas que executam o que nasceram para fazer; que trabalham com o amor de infância. Arrisco a dizer que sua atuação está onde seu coração está, porque ao investir naquilo que gosta, você se torna ainda melhor e abraça o seu propósito.
Não há como você ser bem-sucedido se atua em uma área com a qual não tem afinidade. Cozinha desde criança? Então busque conhecimento em Gastronomia. Ou talvez seu futuro esteja na própria diversão: se sempre foi fã de games, invista em Programação de Jogos Digitais ou streaming.
Não complique, descomplique
Você poderá identificar suas habilidades na forma como desempenha suas tarefas. Faça algumas perguntas a si mesmo: é melhor trabalhar em equipe ou isolado? Gosto mais de emprego presencial, home office ou trabalho híbrido? Tenho ideias e gostaria que elas fosses colocadas em prática ou gosto de cumprir ordens? Consigo me comunicar bem com as pessoas? Priorizo a autonomia e independência? Prefiro lidar com papéis, atendimento ao público ou trabalhar com computador? Amo desafios ou fujo deles? Que tipo de tarefa executo com mais facilidade?
Todo trabalho é digno
Quando você passa a atuar em uma área que nunca trabalhou antes aprende valiosas soft skills, sem perceber: humildade, resiliência, capacidade de adaptação, entre outras. O mesmo acontece quando você exerce uma profissão desvalorizada pela maioria das pessoas. Basta ter em mente que todo trabalho é digno.
Verônica Oliveira é um exemplo de superação: sempre valorizou seu trabalho como faxineira e transformou a percepção sobre as domésticas. Com grande poder de comunicação, ela tornou-se criadora de conteúdo, continua a fazer faxinas e ajuda outras profissionais da área com sua experiência de vida. Conheça a trajetória da empresária.
Pense fora da caixa
Lidar com o fato de “estar” e não “ser” alguma coisa ajuda você a enfrentar adversidades típicas do mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo). A desaceleração brusca de determinadas profissões força a migração para outras áreas. Abra sua visão, enxergue as oportunidades que surgem, use seus pontos fortes para atuar em novos postos de trabalho, vá em busca de capacitação e, então, faça do limão uma limonada.
Nunca se esqueça de suas origens
Quem não se esquece de suas origens desenvolve a capacidade de ouvir, a empatia e a humildade com mais facilidade (sem estes atributos fica quase impossível ter sucesso na carreira). Como diz Augusto Cury: “Ninguém conseguirá trabalhar em equipe se não aprender a ouvir. Ninguém aprenderá a ouvir se não aprender a se colocar no lugar dos outros”.
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