Carreira

Diversidade como estratégia de inovação nas empresas

O que bem-te-vis e pardais têm a ver com o mundo corporativo?

Eu respondo: TUDO!

Cada um é de uma espécie diferente, tem um jeito singular de voar, caçar e cantar, mas todos convivem harmoniosamente em uma mesma árvore.

Assim como os pássaros, pessoas de idades, cores, religiões, sexos, gêneros e culturas diversas podem (e devem) ser inseridas em um mesmo ambiente de trabalho.

Ao abraçar a diversidade e a inclusão, as corporações conseguem promover o engajamento entre seus colaboradores e, consequentemente, caminhar rumo à diferenciação no relacionamento com seus stakeholders e à inovação.

Mas o que é diversidade? 

O dicionário define diversidade como qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado; variedade. E também como conjunto variado, multiplicidade.

Na atualidade, empresas que possuem funcionários com comportamentos distintos saem à frente, pois são capazes de enriquecer a cultura organizacional e promover o compartilhamento de ideias.

Já  a inclusão, de acordo com o dicionário, é o ato ou efeito de incluir(-se), ou seja, pôr dentro de; juntar(-se) a; inserir(-se), introduzir(-se); fazer figurar ou fazer parte de um certo grupo, uma certa categoria de pessoas; pôr.

Por que trabalhar diversidade e inclusão?

Em tempos em que consumidores e investidores passam a valorizar boas práticas de gestão, apostar na diversidade e na inclusão significa agregar valor, elevar competitividade e construir uma imagem positiva no mercado.

De acordo com Daniel Pink, autor de O Cérebro do Futuro: A revolução do lado direito do cérebro (Campus/Elsevier,2007), “estamos em uma nova era em que a sobrevivência e o crescimento da empresa dependerão menos de fatores quantitativos e mais de fatores qualitativos”.

Diversidade e inclusão tornam os empregados mais engajados e despertam neles a vontade de unir esforços para atuar de acordo com a missão, visão e valores da corporação. Com isso, eles conseguem encontrar os objetivos que pretendem alcançar na empresa, abraçam a instituição como uma família e dão asas à sua criatividade.

Bons gestores encaram a diversidade como algo capaz de promover um ambiente mais saudável, feliz e produtivo

Quanto mais inclusivo for um negócio, maior o número de funcionários que trabalham com foco, entusiasmo e motivação, e que transformam desafios em oportunidades.

Colaboradores de idades, cores, religiões, sexos, gêneros e culturas diversas, motivados e com propósito, são capazes de manter um relacionamento saudável, de falar a mesma língua dos clientes e fornecedores, de acabar, no campo institucional, com mazelas como racismo, xenofobia, machismo, entre outras chagas que persistem em pleno século XXI.

E, consequentemente, conseguem elevar a alma da empresa a patamares mais altos, que refletem diretamente nos campos social e financeiro (vendas e ações).

Em um mercado cada vez mais volátil, instável, complexo, ambíguo e globalizado, as corporações que não investem nas diferenças estão fadadas a constantes crises de imagem e, por que não dizer ao fracasso?

No Brasil, o espancamento até a morte do cidadão João Alberto Silveira Freitas, por funcionários terceirizados de uma das unidades do Carrefour em Porto Alegre, repercutiu em todo o mundo.

O ato criminoso, ocorrido em novembro de 2020, deixa claro que questões como diversidade e inclusão não representam uma opção, mas sim uma necessidade de sobrevivência.

Exemplo disso é que a companhia francesa iniciou um o processo de internalização da segurança nas unidades no Rio Grande do Sul e tem expectativa de contratar 20 mil pessoas negras por ano.

E foi justamente por acreditar que apostar fichas na heterogeneidade é investir no futuro de uma empresa que o Magazine Luiza inaugurou um programa de trainees exclusivamente para negros, passo decisivo aumentar a diversidade em cargos de liderança.

Por sua vez, as Lojas Renner, por meio do Instituto Lojas Renner, capacitaram mais de 300 mulheres refugiadas, advindas de países como Venezuela, Bolívia, Colômbia, Haiti e Nigéria.

Parte delas passou a integrar o quadro de funcionários da rede. Além disso, a varejista de moda emprega pessoas com deficiência   em lojas de shopping e de rua, nos centros de distribuição, no setor de cobrança e na sede administrativa.

O relatório da gestora de ativos BlackRock, divulgado no final de 2020, deixa claro que investir em diversidade e inclusão é um caminho sem volta.

A empresa passou a cobrar das companhias publicações de dados sobre diversidade de gênero e raça de seus funcionários.

Diversidade + inclusão= inovação

De acordo com a palestrante futurista Beia Carvalho, primeira mulher a abordar o tema inovação no Brasil, a diversidade é fundamental para solução de problemas e criação de novos produtos, serviços e tecnologias.

Segundo ela, a heterogeneidade contribui com experiências e visões de mundo diferenciadas, tornando o ambiente de trabalho rico em ideias.

Realizada pela Accenture, a pesquisa “Getting to equal 2019: Creating a culture that drives innovation” revela que empresas que investem em diversidade e inclusão conseguem criar uma cultura de inovação.

A análise, que ouviu mais de 18 mil profissionais de corporações de vários tamanhos e segmentos em 27 países, evidencia que a cultura de inovação é maior em empresas mais igualitárias e que colaboradores de empresas mais inclusivas não encontram obstáculos para inovar.

O relatório também mostra que diversidade e inclusão são fatores mais cruciais para gerar inovação do que aumento salarial.

Vamos aos números?

Segundo a pesquisa da Accenture, 85% dos funcionários que integram empresas altamente inclusivas não têm medo de errar; contra 56% dos que trabalham em corporações medianas e 36% dos que fazem parte das organizações pouco inclusivas.

Devo lembrar que o medo de errar é um forte obstáculo à inovação, porque ela é fruto de inúmeras tentativas e erros, e, afinal de contas, para inovar é necessário assumir riscos.

O estudo revela que 40% das empresas altamente inclusivas não se consideram impedidas de inovar, contra 21% das corporações medianas e 7% das organizações pouco inclusivas.

Pasmem: a cultura de inovação é duas vezes maior nas companhias mais inclusivas, em comparação com empresas com grau médio de diversidade.

O indicador de diversidade do considera três aspectos: engajamento da liderança e ações práticas que tornam a companhia diversificada, inclusiva e igualitária; ambiente de trabalho empoderador, flexível; e políticas de suporte a todos os gêneros.

Em 2018, a Boston Consulting Group (BCG) realizou uma pesquisa com 1.700 instituições de vários tamanhos em diferentes ramos da indústria em oito países.

O relatório, que incluiu o Brasil, evidencia que corporações com equipes de gestão mais diversificadas tiveram uma receita 19% maior relativa à inovação.

Já o estudo feito pela consultoria Mais Diversidade, publicado pela Você RH em dezembro de 2020, mostra que o assunto deve ganhar mais espaço na agenda corporativa em 2021.

O relatório demonstra que 97% das 300 empresas brasileiras ouvidas pretendem aumentar os investimentos em inclusão.

Humanização

Observamos a efervescência de duas gerações que influenciam o mundo do trabalho e do consumo.

De um lado está uma população em fase de envelhecimento, extremamente seletiva e crítica, que valoriza o “ser” em detrimento “ter” e a satisfação pessoal e profissional acima das excelentes remunerações.

De outro, os millenials, que nasceram em meio a uma efervescência tecnológica, que priorizam a autenticidade e que foram criados para serem livres, pensadores, questionadores, coprodutores.

Vemos também o envolvimento cada vez maior da sociedade em ações pela igualdade em seus diversos aspectos.

Não há mais tolerância para atos racistas, machistas, xenofóbicos, entre outras anomalias sociais

Querendo ou não, esse é um fator determinante para o mundo do trabalho e do consumo.

Em um mundo onde as transformações ocorrem em alta velocidade, extremamente tecnológico, globalizado e competitivo, o grande diferencial de uma empresa está justamente no relacionamento humanizado com todos os seus stakeholders.

Torna-se, então, fundamental, para todo e qualquer empreendimento, investir em capital humano heterogêneo.

Somente ao abraçar a diversidade e a inclusão uma corporação será capaz de entender as dores, medos e anseios do outro em sua singularidade, pois tais elementos asseguram decisões mais maduras e agregam uma variedade de conhecimentos e vivências capazes de serem aplicadas no ambiente de trabalho, tornando-o um lugar único de troca de experiências e ideias.

Não podemos esquecer que, “como as aves, as pessoas são diferentes em seus voos, mas iguais no direito de voar” (Judite Hertal).

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