A luta por uma sociedade mais justa e igualitária ainda está longe de ter um fim.
Infelizmente o desrespeito, a intolerância e o preconceito ainda são perceptíveis no mundo moderno, impulsionando grupos minoritários a exigirem o direito de frequentar qualquer ambiente sem discriminação.
Parece absurdo, né? E é.
O problema é que, em pleno 2021, ainda precisamos – e precisamos muito! – problematizar essas questões.
Parece que a branquitude simplesmente não aprende a conviver com diferenças primárias como a cor da pele…
O Dia da Consciência Negra traz reflexões importantes sobre a inserção do negro na sociedade.
E a escolha da data, 20 de novembro, não foi aleatória.
Na verdade, ela coincide com dia da morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes negros do Brasil, que lutou arduamente pela libertação do seu povo.
Quem foi Zumbi dos Palmares?
Inspiração para a luta contra o racismo, Zumbi dos Palmares é um negro pernambucano que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos de idade.
Foi líder de um dos maiores quilombos do Brasil, o Quilombo dos Palmares, refúgio dos escravos fugitivos de engenhos das Capitanias de Pernambuco e Bahia.
Entre 1680 a 1691, o Quilombo foi alvo de inúmeros ataques dos colonizadores, mas Zumbi e os demais quilombolas, na defesa da liberdade, lutaram contra a invasão e resistiram à opressão portuguesa.
No entanto, a batalha chegou ao fim em 20 de novembro de 1695, quando Zumbi foi morto, seu corpo esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública.
Por ser um símbolo inspirador na luta do movimento negro, a data da morte de Zumbi dos Palmares se tornou, por lei federal, o marco de celebração da história e cultura afro-brasileira, além de mobilizar a sociedade no combate ao racismo.
A história de um povo que não cansa de resistir
Não é novidade para ninguém que o combate ao racismo é uma luta histórica – e não é de hoje.
Todos os problemas relacionados ao tema começaram aproximadamente em 1550, com o tráfico negreiro para o Brasil. E, não, eles não foram encerrados com a abolição da escravatura, em 1888.
Séculos de escravidão e desrespeito à vida humana, infelizmente, não findaram com a assinatura da Lei Áurea. Ao contrário: relegada às margens da sociedade, a população negra livre se viu, sem mais nem menos, à deriva.
Não que continuar escrava fosse uma opção, óbvio!
Mas aparentemente nenhuma autoridade – branca, por sinal – achou que deveria olhar com atenção e programas de inserção social para essa gente, tão trabalhadora e merecedora de oportunidades iguais.
A desigualdade racial não pode ser ignorada
A desigualdade racial e a falta de prerrogativas só cresceram com o tempo, e hoje temos uma estatística nada favorável.
De acordo com o IBGE, pretos e pardos, que formam 56% da população brasileira, possuem os piores indicadores de renda, moradia, escolaridade e serviços, entre outros aspectos.
Em outras palavras, a desigualdade social por cor ou raça produz resultados assustadores e coloca a população negra em franca desvantagem na comparação aos brancos.
E não para por aí: mais que nunca é preciso resistir para existir; ou seja, lutar pela igualdade é um método de sobrevivência.
De acordo com a agência Senado, das pessoas mortas por ações policiais, 76% são negras; 64% de toda a população carcerária no Brasil também é negra.
E a sua representatividade em cargos de poder é bem baixa, ocupando apenas 9% das vagas para juízes de tribunal superior e 24% para cargo de deputado federal.
A falta de oportunidades para os negros é gritante, fazendo com que eles tenham que brigar por direitos comuns básicos, como acesso à educação de qualidade, alimentação e moradia.
Mais que isso, os negros no Brasil lutam contra um sistema predominantemente racista que está a favor de seu extermínio.
É de uma vergonha avassaladora ser branca em uma sociedade desse naipe.
Vamos falar de educação?
A entrada massiva dos negros às universidades, por exemplo, só foi possível graças a uma série de reivindicações que culminaram na Lei Federal de Cotas.
O texto obriga as universidades federais a preencher determinado percentual de vagas para estudantes pretos, pardos e índios e, desde 2017, as pessoas com deficiência.
Independentemente da sua opinião sobre essa política, uma coisa é inegável: foi a Lei das Cotas que permitiu que faculdades tidas como “de elite”, como medicina, engenharia e direito, tivessem mais estudantes pretos e pardos nos últimos anos.
Olhe no seu próprio círculo de amizades e veja, não sem uma assombrosa surpresa negativa, que muitas pessoas da nossa geração são as primeiras de suas famílias a ter um diploma universitário.
E ainda tem gente trucando a importância do Dia da Consciência Negra?
Me poupe, beloved!
Tô achando um dia pouco; poderíamos ter um mês inteiro da consciência negra e, ainda assim, não estaríamos à altura das lutas populares.
O Dia da Consciência Negra é uma data marcada para reviver memórias e discutir ações de combate ao racismo no nosso país.
Embora os avanços sejam visíveis, com muitas áreas da sociedade abraçando essa causa, os resultados ainda são tímidos. Ou seja: muita coisa ainda precisa ser feita.
A celebração de 20 de novembro é um momento importante para relembrar a sociedade brasileira que a população negra, que participou intensamente da construção do país, evidencia um desmerecimento absurdamente injusto de sua cultura.
Não podemos fechar os olhos
Inúmeros são os casos em que negros são importunados por seu cabelo, tom de pele, modo de vestir e até por suas referências religiosas.
Acontece que toda vez que um negro sai de casa ele precisa se armar de estratégias para enfrentar o racismo que já está impregnado na nossa cultura:
é homem de boné que entra em uma loja e é confundido com ladrão, ações de vandalismo contra terreiros de umbandas e candomblé e até o uso de expressões da língua portuguesa que reforçam ainda mais o preconceito, como cabelo ruim, denegrir, da cor do pecado, negra de traços finos ou “nasceu com o pé na cozinha”
Deleta isso tudo agora, por favor!
Essas e outras expressões envelheceram muito mal e, cá entre nós, não deveriam nem ter nascido…
Isso significa que o caminho a ser trilhado ainda é longo.
Alertar e mudar o comportamento de toda a sociedade não é tarefa fácil, exige tempo e muito debate em torno do assunto, mas ninguém pode falar que estamos de braços cruzados.
O Dia da Consciência Negra é o momento de nos posicionarmos por mudanças.
Devemos promover ações para um país mais justo e liberto dos preconceitos que são reais, ao contrário desse papo de “racismo reverso”, que é mais imaginário que unicórnios alados e, portanto, não merece sequer um espaço para discussão.
Passar muito bem.
lalalalalalalalamuito bom