Direta ou indiretamente a pandemia de Covid-19 provocou transformações irreversíveis em diferentes aspectos (saúde, social, empresas, educação, economia, consumo, meio ambiente). O mundo do trabalho foi severamente impactado por tais mudanças e, como sempre digo, quem não se adaptar à sociedade da reinvenção estará fadado ao fracasso.
Em apenas um ano vivenciamos uma aceleração intensa em termos de digitalização e automação. Presenciamos o uso da Inteligência Artificial em larga escala; a evolução do e-commerce e da ciência; e adoção em massa dos canais Omnichannel e do Big Data.
Testemunhamos, ainda, o avanço na utilização de aplicativos na prestação de serviços, como meios de comunicação oficiais para a realização de videoconferências. A tecnologia passou a se destacar em todos os setores: varejo, mercado financeiro e serviços.
Algumas modificações no modo de trabalho, impulsionadas pela pandemia da Covid-19, já ocorreram e outras estão por vir. O cenário é incerto e aponta para o aumento da concorrência, convivência entre diversas gerações no ambiente corporativo, além de barreiras geográficas cada vez menores.
O mundo corporativo vive transformações sem volta, como o surgimento de tarefas específicas; incorporação do home office, do anywhere office e do trabalho híbrido, além da flexibilização de horários. É interessante notar que, mesmo assim, o rendimento dos colaboradores se mantém alta. Em função disso, as empresas preveem jornadas mais flexíveis e remotas, cada vez mais pautadas por produtividade.
Quer criar uma rotina de trabalho em home office organizada? Então não deixe de ler: Home Office: você sabe criar limites entre o pessoal e o profissional?
Como ficará o mercado de trabalho no contexto pós-pandemia?
A globalização e as tecnologias emergentes forçarão o surgimento de novas profissões e a extinção de outras, além da busca por profissionais internacionais, que serão contratados para projetos específicos e, cada vez mais, a troca de trabalho será constante. Talvez tornem-se raros os funcionários com 20 anos em único emprego, pois as empresas estarão inclinadas à contratação de mão-de-obra temporária, freelancers e terceirizados.
Em contrapartida, o mundo do trabalho será caracterizado pelo networking, pelo surgimento de novas oportunidades e pelo bem-estar profissional. Pasme, mas algumas profissões poderão surgir em função da saúde física e mental dos colaboradores!
As empresas contratarão os candidatos mais atrativos, que se encaixem em vagas específicas, independente de gênero, idade ou local onde residem. Cursos específicos e reciclagens atenderão às necessidades que graduações e MBA’s não darão mais conta de suprir.
O desenvolvimento tecnológico provocará o aumento da demanda por profissionais qualificados para lidar com novas tecnologias. Os empregados mais valorizados serão os que contribuirão para o aumento da produtividade, transformações nas relações de trabalho e desenvolvimento em longo prazo. Mudar de carreira já é e será o “novo normal”.
Fica claro que, profissionais em busca de emprego ou recolocação precisarão se requalificar para desenvolver suas habilidades técnicas e comportamentais. Isso permitirá atualização do conhecimento e alinhamento o com o atual cenário do mercado de trabalho.
Vamos aos dados?
De acordo com o relatório “The Future of Jobs Report”, do Fórum Econômico Mundial (FEM), 55,4% das empresas encontram lacunas de competências nos profissionais de seus respectivos mercados, fator impeditivo para adoção de novas tecnologias. O estudo ouviu 291 corporações de diversos países, que representam 7,7 milhões de funcionários.
Segundo o documento, 50% dos colaboradores precisarão de requalificação; 40% das competências atuais devem mudar; aproximadamente 40% dos profissionais terão que passar por requalificação de seis meses ou menos; 94% dos líderes esperam que seus empregados adquiram novas habilidades.
Profissões do futuro
Muitas das profissões em ascensão estão ligadas às novas tecnologias, que se aprimoram dia a dia, com cargos voltados para uso de dados, automação de processos, programação, estratégia de negócios e capacidade de visão de crescimento.
O relatório “Jobs of Tomorrow: Mapping Opportunity in the New Economy”, do FEM, aponta as 7 principais áreas que darão origem a 96 profissões do futuro: Saúde; Dados e Inteligência Artificial; Engenharia e Computação em Nuvem; Economia Verde; Pessoas e Cultura; Desenvolvimento de Produtos; Vendas, Marketing e Conteúdo.
A análise prevê que cerca de 85 milhões de empregos poderão sumir do mercado global até 2025 e outras 97 milhões de novas oportunidades poderão ser criadas. Segundo a pesquisa, até 2022, 6,1 milhões de empregos deverão surgir. O estudo revela que, apesar de o desemprego estar em alta, há um verdadeiro desencontro entre oferta e demanda, pois, faltam profissionais que se enquadrem às necessidades do mercado.
América Latina
De acordo com o documento “Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-Covid-19”, do Banco Mundial, a crise provocará profunda recessão no mercado de trabalho em diversos países. O diagnóstico prevê que trabalhadores pouco qualificados na América Latina poderão sofrer com salários menores e ter uma vida profissional permanentemente afetada por crises econômicas, como a que ocorre em função da pandemia.
A previsão é mais otimista para pessoas altamente qualificadas, que serão capazes de se recuperar rapidamente. A pesquisa aponta para a retomada da trajetória de emprego e salário em cerca de um a dois anos para os mais escolarizados.
Brasil
O impacto sobre trabalhadores brasileiros médios tende a perdurar por 9 anos. A situação é ainda pior para jovens não inseridos no mercado. Outra previsão é a pouca oferta de empregos formais e duradouros, que poderão chegar à marca dos 4%. Em outras palavras, os postos de trabalho considerados estáveis e protegidos por lei, típicos do setor formal, estarão menos disponíveis.
No Brasil, os efeitos da pandemia são nefastos: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, no primeiro trimestre de 2021, a taxa de desemprego alcançou a marca dos 14,7%, o que representa 14,8 milhões de desocupados.
Skill gaps
O mercado sofre com transformações como a expansão tecnológica; surgimento de novas ferramentas que incluem as de trabalho; mudanças de comportamento dos consumidores; preocupação crescente das empresas com sustentabilidade e inovação. As maiores corporações não abrem mão de fatores como engajamento; entrega de valor para clientes e colaboradores; produtividade; convivência de gerações diferentes. Diante de um cenário tão complexo, as skill gaps ou lacunas de habilidades são o principal entrave para as instituições.
Citada anteriormente, a pesquisa “The Future of Jobs” mostra que, diante da ausência de talentos prontos, as organizações (62 % das entrevistadas) investem na requalificação de seus colaboradores, porém apenas 42% deles efetivamente participam dos cursos oferecidos pelas mesmas.
A análise revela que, entender quais habilidades são mais demandadas para os próximos anos auxilia no melhor direcionamento da carreira. Mas antes de buscar novas competências é necessário desenvolver a capacidade de aprender novas habilidades. Atualmente as soft skills estão no mesmo patamar das hard skills.
Leia também: Transformações no mercado de trabalho e a importância das skills
Skills em alta até 2025
O estudo mostra as skills (habilidades) que estarão em alta até 2025: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado; resolução de problemas; pensamento crítico; criatividade; liderança; uso, monitoramento e controle de tecnologias; programação; resiliência; tolerância ao estresse e flexibilidade; raciocínio lógico; inteligência emocional; experiência do usuário; foco no cliente; análise e avaliação de sistemas; persuasão e negociação.
Requalificação
Diversas instituições e profissionais ainda não atentaram para a velocidade e profundidade das novas demandas de mercado, que incluem as mudanças provocadas pela pandemia. Nem todas as corporações encaram o desafio de capacitar sua mão-de-obra para lidar com fatores como avanço tecnológico, intergeracionalidade no ambiente corporativo, aumento da exigência dos consumidores, diversidade, inclusão e ESG (traduzindo para o português, Ambiental, Social e Governança Corporativa).
Para saber mais sobre inclusão e diversidade nas corporações não deixe de ler os artigos abaixo:
Lifelong learning
Os profissionais do futuro precisam atentar para a necessidade de novos aprendizados. Na realidade, o processo de aprendizagem deve ser constante, para que seja possível uma performance satisfatória na carreira. Pessoas bem sucedidas serão as que estiverem atentas às novas profissões, dispostas à reinvenção e aquisição de talentos.
Impulsionando a carreira
Reskelling e upskilling são derivados do termo “skill” e estão associados ao lifelong learning (aprendizado ao longo da vida). Upskilling nada mais é que aprimorar, elevar capacidades e competências em uma área onde o profissional já atua. Upskill significa aprender ou ensinar novas habilidades.
Reskelling é a requalificação de pessoas desempregadas ou profissionais que precisam adquirir novos conhecimentos, em função de mudança ou extinção de cargos. Reskill refere-se ao aprendizado de novas habilidades para desempenhar um trabalho diferente.
Upskilling
De acordo com o relatório da Deloitte, o upskilling é imperativo na economia pós-Covid, diante da exigência de atualização. O upskilling eleva o desenvolvimento das habilidades atuais a outros patamares. Um exemplo é o jornalista que aprende a lidar com aplicativos de imagem e a produzir conteúdo para redes sociais.
Reskelling
Geralmente o reskelling é aplicado para requalificação profissional, quando os empregos ficam obsoletos. Torna-se, então, necessária a aquisição de novas habilidades e competências que permitam a atuação das pessoas em outras áreas. Esse seria o caso do jornalista que se capacita em Programação para assumir outra função na empresa onde trabalha ou conquistar um emprego.
Quais as vantagens do reskelling e do upskilling?
Profissionais e empresas que investem em aprendizagem conquistam inúmeras vantagens, levando em conta que os novos conhecimentos contribuem para a valorização no mercado de trabalho e conduzem as corporações a um outro nível, pois, quanto mais bem avaliadas suas equipes, mais atributos positivos as corporações acumulam diante de seus stakeholders.
O reskelling e o upskilling são estratégicos, pois são capazes de agregar mais valor aos profissionais, e também de atrair e reter talentos, diminuindo o índice de demissões. É inegável que empresas que reconhecem a relevância de ambos e investem em educação corporativa contam com equipes mais interessadas, engajadas, produtivas, criativas e inovadoras.
Para saber mais sobre o assunto você pode ler: Educação Corporativa: empodere pessoas e elas impulsionam negócios
Como desenvolver o upskilling e o reskelling?
Empresas interessadas em incorporar o upskilling e o reskelling precisam, antes de tudo, realizar o mapeamento de habilidades e competências técnicas e comportamentais de suas equipes. Posteriormente, elas devem entrar em um processo de educação corporativa com uma bateria de treinamentos personalizados, palestras, curadorias e cursos focados nas pessoas, considerando necessidades e objetivos de cada profissional, de forma a evitar desinteresse e desmotivação entre seus colaboradores.
E, por fim, criar programas que incentivem o intercâmbio, a troca de experiências entre áreas e gerações, considerando que, em termos de tecnologia, os trabalhadores mais velhos têm muito a aprender com os mais novos. As gerações jovens, por sua vez, podem ganhar novas soft skills ao serem instruídas por pessoas mais experientes.
Já o profissional que deseja iniciar os processos de reskelling e upskilling precisa, em primeiro lugar, reconhecer o cenário atual, ou seja, fazer uma verdadeira análise de conjuntura que leva em conta inúmeros fatores. Em seguida, ele deve realizar uma autoavaliação de suas hard e soft skills para detectar defasagens e conhecimentos que precisam ser aperfeiçoados.
O terceiro passo consiste em descobrir como aprimorar habilidades e competências, ou seja, buscar as fontes mais indicadas para aquisição de conhecimentos, como pessoas, cursos, livros, palestras e webinars. E, finalmente, arregaçar as mangas, dedicar-se ao que se propôs a fazer, com resiliência, dedicação, foco e amor. Em outras palavras, mergulhar em um verdadeiro processo de autocuradoria, afinal de contas, “um objetivo sem um plano é só um desejo”.
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