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Homofobia nas empresas: uma luta que precisamos abraçar

A caminhada à procura de emprego é difícil – só quem já passou por uma vai entender o que quero dizer. Avaliações descabidas de desempenho baseadas em apenas uma hora de conversa (e de pura tensão!), pessoas observando sua roupa, se você fala gírias ou tem tatuagens. E, ainda, multiplique por x (sei lá quantas vezes) essa dificuldade se você for um LGBT (lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual ou transgênero). Eu sei, na pele, como funciona: ao menor indício, os olhares já mudam, recrutadores ficam inquietos e parece que o interesse pelo seu currículo se encerra por ali mesmo. Você pode ser o melhor profissional do mundo, com habilidades fora de série, não interessa: você é homossexual e, portanto, não serve para a função.

“Você pode ser o melhor profissional do mundo, com habilidades fora de série. Mas não interessa: você é homossexual e, portanto, não serve para a função”

Com uma pesquisa rápida na internet é possível encontrar matérias que apresentam números que, honestamente, alarmam. Ainda que divulgados em 2016, as empresas brasileiras parecem não terem avançado tanto quanto parece nas novelas da Globo. Quer ver?

Um estudo da Elancers, empresa de recrutamento e seleção, concluiu que 31% das empresas brasileiras se recusam a contratar LGBTs, principalmente, para cargos de chefia – com medo de ter a imagem da marca associada ao profissional – e 7% não contratariam em hipótese alguma. Imagina quanta gente incrível está sendo deixada de lado em função da hipocrisia humana. E, pior: se é ruim para nós, homossexuais, multiplique (de novo) as dificuldades para transexuais. Não gosto nem de pensar!

Sobrevivendo à selva corporativa

Parece que só há uma solução: omitir e pronto! Suas competências instantaneamente emergem. Você pensa que vai conseguir ficar atrás da máscara. Evita participar das festas da firma, não compartilha sua vida pessoal com colegas e ainda bloqueia as redes sociais para que só vejam o mundo ideal.

De repente, você percebe que sua carreira está norteada por ações que “disfarçam” e parecem evitar o sofrimento diante dos olhares preconceituosos. Passa por situações que aparentam “normais”, mas que estão mergulhadas em uma homofobia tão velada que você nem sabe como lidar. Eu vivi isso.

Certa vez, uma diretora me pediu discrição ao saber da minha orientação. Agora, me explique: o que ela quis dizer com isso? Sempre fico pensando o porquê ela pediu isso. O que será que ela imaginava? Não entendi, mas também não argumentei. Sofri calada e encarei aquilo como “natural”. É assim mesmo. E segue a vida! Como assim, natural? Alguém tratar o outro com desrespeito, independente da razão, não é nada natural.

Foco nos bons exemplos: eles nos guiarão

Por enquanto, ainda é clara a resistência das organizações brasileiras em conviver com aquilo que é diferente. Em contrapartida, ao redor do mundo já existem empresas que deixaram de lado tabus e preconceitos para abrir suas portas aos profissionais da diversidade. Aos poucos, estão promovendo uma verdadeira inclusão LGBT no mercado de trabalho e, na minha opinião, elas são a esperança para acabar com a desigualdade de gênero no mundo corporativo. Por serem tão inovadoras, merecem destaque no meu texto, com suas estratégias e histórias que podem incentivar outras corporações a abrirem suas portas.

“Ao redor do mundo já existem empresas que deixaram de lado tabus e preconceitos para abrir suas portas aos profissionais da diversidade. Aos poucos, estão promovendo uma verdadeira inclusão LGBT no mercado de trabalho e, na minha opinião, elas são a esperança para acabar com a desigualdade de gênero no mundo corporativo”.

Empresas voltadas diretamente para este público

Elas não existiam até pouco tempo atrás – por medo mesmo –, afinal, botar a cara a tapa para sofrer com ataques virtuais (e até físicos) não é para qualquer um. Por sorte, hoje basta entrar no Instagram para ver marcas destinadas exclusivamente para LGBTs. Não porque não possam usar quaisquer outras, mas porque simplesmente elas não representam essas pessoas. Até então, o que a gente via no mercado eram marcas produzindo e comunicando com héteros, mas que LGBTs podem usar, claro.  

Foi diante disso que eu, Camila, lésbica assumida desde os 24 anos, idealizei a Thesame, uma loja virtual de produtos que promovem o respeito à diversidade, evidenciam o orgulho e representam o amor em todas as suas formas. Nenhum problema com héteros, até tenho amigos que são (rs). Brincadeiras à parte, o propósito da Thesame é inverter essa equação: uma marca que produz e comunica com LGBTs, mas que héteros podem usar, claro.

O propósito dessas novas marcas é realmente empoderar essa comunidade. Fazer com que LGBTs se identifiquem com os produtos e usem porque se reconhecem naquilo. É um mercado ainda muito novo, mas tenho certeza de que tem muita coisa legal vindo aí.

Empresas com áreas voltadas à diversidade

Grandes corporações que entenderam a relação entre diversidade e desempenho já dispõem de ações para engajar lideranças e envolvê-las em áreas voltadas a discutir o tema. A IBM é uma delas e usa uma técnica que chama de mentorização reversa – quando os gestores recebem orientações dos funcionários como forma de promover a empatia –, além de canais de denúncia. Outra empresa que acredita nos benefícios da inclusão é a KPMG. Para ter ideia, ela criou um departamento chamado Cidadania Corporativa, Inclusão & Diversidade.

Lendo um artigo na internet (fontes seguras) encontrei a seguinte pergunta: por que as empresas que respeitam a diversidade têm um desempenho melhor do que a média? Achei a resposta óbvia e genial. Porque elas valorizam o talento acima de qualquer outra característica pessoal e, com isso, conseguem extrair o melhor de cada funcionário.

Gente, não é tão difícil: a diversidade de ideias, culturas, experiências move as organizações rumo à inovação. Não é isso que elas buscam hoje? Então, por que seguem nadando contra a maré? Sinto muito, mas é um caminho sem volta.

Bom! Diante dessas reflexões, gostaria de reforçar para os desavisados (como a Laís já fez aqui) que, embora a homofobia ainda não seja crime (ainda), quaisquer atos discriminatórios – assédio moral ou físico oriundos da orientação sexual de alguém –  se comprovados podem, sim, parar nos tribunais. Fica a dica! Mas é claro que, como todo mundo gosta e exige respeito, esse último parágrafo ficou bem óbvio e desnecessário, não é mesmo?

E você? Já passou por alguma situação difícil na sua empresa ou tem algum exemplo positivo para compartilhar com a gente? Comenta aí!  

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