Desde muito nova, sempre acreditei que os estudos eram a forma de eu “ser alguém” na vida.
Não tinha sonhos altos, mas sempre pensei em me sustentar sem a dependência dos meus pais e marido. Morava no interior de Minas e não tínhamos a facilidade de ir para grandes centros. Então, decidi que faria o vestibular para Pedagogia na minha cidade, pois havia uma faculdade particular aqui em São João del Rei.
Quando fui fazer o vestibular, estávamos na praia e minha mãe disse: “não vai para São João nada filha, solão aqui, você não estudou, não vai passar”. Peguei o ônibus e vim. Passei, comecei meus estudos e, logo no início, percebi que não tinha me identificado com o curso. No segundo semestre, mudei para Letras, pois adorava inglês.
Me formei, casei, fiz concurso público estadual para docente. Passei no concurso e comecei a trabalhar em uma escola pública de periferia. Cuidei dos meus filhos quando pequenos e sempre quis estudar mais, alçar voos maiores.
Assim que meus dois meninos cresceram um pouco, abriu vaga de mestrado na minha área na Universidade Federal de São João del Rei, antiga Faculdade Dom Bosco, onde fiz minha graduação. Já não conhecia quase nenhum professor, só a Professora Adelaine, de Língua Inglesa, que havia começado na Faculdade no meu último ano de curso. Como sempre fui boa aluna, frequente e dedicada, eu a procurei e, logo que me reconheceu, ela quis me ajudar.
Perguntei como fazia para entrar no mestrado, pois já tinha tentado fazer a prova e havia sido reprovada na 1ª etapa, em inglês. Ela me aconselhou a fazer um curso de inglês na Universidade, mas eu disse a ela que eu tinha um certo domínio da língua e que, na verdade, não tinha familiaridade com textos teóricos. Achei que a prova de inglês fosse objetiva. Então, a professora indicou que eu fizesse uma disciplina isolada – a disciplina dela, a mais difícil, do curso: Teorias Literárias do Século XXI. Ela disse que assim eu poderia me familiarizar com textos teóricos contemporâneos. Encarei.
Durante as aulas, não entendia quase nada, afinal, tinha feito uma graduação bem diferente das atuais, sem iniciação científica, trabalho monográfico, etc. Mesmo sem entender muito, eu sempre lia o material. Assistia às aulas e anotava tudo. Entendia um pouco mais a cada dia. Chegava em casa, lia o texto de novo com as anotações da aula e fazia as minhas considerações em um caderno que foi todo estudado para a prova de mestrado.
No último dia da inscrição para a seleção do mestrado, falei com a professora: não vou fazer não, não vou passar… mas estava com todos os documentos prontos. Fiz a inscrição, fiz as provas e passei. Comecei as disciplinas. Não estava conseguindo fazer os trabalhos finais das disciplinas, pois não sabia fazer monografia. Quase desisti de novo.
Contei para uma amiga que não ia concluir os créditos daquele semestre. Ela saiu de sua cidade, próxima da minha, e me explicou como era a escrita do texto. Fiz a monografia e tirei 9,5, quase a nota máxima. Fiquei muito feliz e orgulhosa.
Terminado o mestrado, procurei contatos de amigos e parentes e consegui entrar na melhor escola de ensino fundamental e médio da minha cidade e comecei a trabalhar no IPTAN como professora do curso de Normal Superior.
Entrei com poucas aulas nessas escolas, mas mostrei muito trabalho. Continuei ainda na escola pública também.
Desenvolvi vários projetos e recebi quatro prêmios educacionais: um nacional, Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e três estaduais.
Surgiu a vontade de fazer doutorado na UFMG. Novamente, não acreditei que conseguiria. UFMG? Doutorado? É muito para mim. Tentei e consegui novamente. Fui a primeira da minha turma a defender. Fiz um concurso público federal, CEFET, passei em terceiro lugar, mas não fui chamada. Consegui mudar minha vaga para o IFET da minha cidade, mas denunciaram o aproveitamento de um concurso do CEFET para o IFET, pois havia candidatos do IFET de outras localidades aguardando vaga. Fiquei arrasada.
Se tivesse tendência à depressão, certamente cairia de cama. Trabalhar na Federal, na minha cidade, era o meu maior sonho. Mas Deus tinha preparado algo ainda melhor e maior para mim – como disse minha mãe – e, num primeiro momento, não acreditei: um conhecido e colega de trabalho do IPTAN assumiu a direção geral da instituição e me convidou para a direção acadêmica.
Ele me disse: “sempre pensei em você para esse cargo, desde que soube do seu prêmio Educador Nota 10”.
A professorinha horista, que quase não tinha aula na instituição, foi convidada para o segundo maior cargo institucional – a direção acadêmica. Não acreditei! Fiquei com muito medo. Não sabia nada de administrativo, mas aceitei.
Revolucionamos a faculdade.
Abrimos novos cursos, trouxemos o Curso de Medicina e nos transformamos em Centro Universitário.
Hoje, sou uma das referências em metodologias ativas de aprendizagem no Grupo NRE Educacional, Grupo que abarca o UNIPTAN e seis unidades educacionais.
Graças à minha força de vontade, persistência, trabalho sério e comprometido, rede de relações que estabeleci e, principalmente, a Deus, cheguei onde estou. Fico pensando: talvez, se eu tivesse sonhado mais alto e traçado metas, poderia ter ido ainda mais longe.
Maria Tereza Lima, pró-Reitora do IPTAN, Centro Universitário Presidente Tancredo Neves
Uma dica de ouro
Ao ler todos esses depoimentos (você pode conferir, também, o do Rafael Damasceno, do Victor Soares, do Lédio Carmona, da Raquel Vilela, do Felipe Schepers e da Ayala Melgaço), e muitas outras conversas sobre o assunto que tive em paralelo à edição desse texto, fiquei motivada a dar mais de mim em cada projeto – e espero que esse efeito tenha te alcançado.
Aproveitando o ensejo, acabei perguntando para o Edward Sullivan, coach dos maiores executivos do Vale do Silício, o que é que ele sugere para quem quer se esforçar para conseguir alcançar seu sonho, e o que ele me disse foi surpreendente:
“Gosto de dizer pras pessoas que, se parece que é trabalho, então você não está conectado a um sonho grande o suficiente. Perseguir um sonho que realmente te inspira faz o esforço para chegar lá parecer a construção do caminho, e não um “trabalho”. Não deixe de se esforçar, fazer escolhas e perseguir seu foco, mas lembre-se de que essa coisa toda de trabalhe, trabalhe, trabalhe, trabalhe e, talvez, lá longe, seja feliz, não é uma boa estratégia para ser feliz, de fato”.
Espero que esses depoimentos, pontos de vista e histórias de vida tenham de ajudado a focar ainda mais nos seus objetivos – e lembre-se, sempre, que a Profissas está aqui para te dar a mão nessa árdua, porém incrível, caminhada.
Durma-se com um barulho desses, se puder. Mas, se não puder, comece a fazer.
Agora.
O mundo está curioso para ver onde você pode chegar.