Empreendedorismo

O que 120 empreendedores nos ensinaram sobre empreendedorismo

A Polímatas está há 1 ano criando uma rede de empreendedores que trocam seus conhecimentos sobre gestão e negócios em eventos. Nesses quase 13 meses, mais de 120 pessoas se juntaram a nós em quase 30 eventos, nós temos ouvido as comemorações, frustrações e anseios de pessoas que vieram de um background técnico e estão hoje abrindo seus e-commerces, consultorias, clínicas de psicologia, lançando produtos, aplicativos e serviços. São engenheiros, programadores, psicólogos, vendedores e designers que precisam aprender sobre finanças, estratégia, marketing, jurídico, tecnologia e muitas outras áreas para poderem tocar seus negócios. Este é o conceito de um polímata: uma pessoa que aprendeu muito de várias áreas.

Vou compartilhar 4 coisas, que num primeiro momento parecem óbvias, mas que eu ouvi falar pouco por aí, que aprendemos nesse tempo em contato com esses empreendedores.

Tudo parece estar dando errado, mas não está.

Um dos maiores feedbacks que recebemos de nossos polímatas, como chamamos os empreendedores que fazem parte de nossa rede, é que às vezes parece que só o negócio deles não está decolando – ainda mais se você frequentar eventos de networking ou de pitches. Parece que todos estão fazendo mil vendas, cheio de cases para compartilhar e histórias para contar. Mas não é assim. Todos nós falhamos todos os dias quase – e é importante que isso aconteça. Se você tem a sensação que só acerta, não vai aprender nada com isso. É no momento da falha, quando os planos dão de cara com a realidade, que você tem oportunidade de mudar alguma coisa.

Imagine se o pessoal da ASID, uma ONG de Curitiba que atua no apoio e melhoria da gestão de outras instituições de desenvolvimento de pessoas com deficiência, tivesse desistido por passarem 16 meses até conseguirem o primeiro cliente, em 2011, depois de serem recusadas por 88 empresas? Eles não teriam recebido os seus mais de 10 prêmios. Dentre os mais relevantes, podemos citar o Prêmio Empreendedor Social de Futuro da Folha de São Paulo em 2013 e o Prêmio Jovens Inspiradores da revista Veja em 2014. Os três empreendedores, Alexandre Amorim, Diego Tutumi e Luiz Hamilton, também já ganharam bolsas de estudo em instituições como Harvard, Stanford e INSEAD.

Você precisa falhar para aprender. E não é só uma frase de motivação genérica, é pura lógica. Uma das frases que mais marcou a vida da Polímatas veio do empreendedor Ricardo Dória, fundador da Aldeia, que nos disse “nenhum plano sobrevive às ruas”. O seu também não vai e é importante você está consciente disso.

A chave para você entender isso, explica Dr. Carol S. Dweck, professora da Stanford University, segundo seu livro “Mindset: The New Psychology of Sucess”, é compreendermos que temos um problema com nossa mentalidade. Ela conduziu uma pesquisa sobre o porquê as pessoas desistem, contra aquelas que se superam.

Se você acredita que seus talentos são inatos ou fixos, então você tentará evitar falhas a todo custo porque a falha é prova de sua limitação. As pessoas com uma mentalidade fixa gostam de resolver os mesmos problemas sempre. Isso reforça seu senso de competência.

Mas se você acredita que seu talento cresce com persistência e esforço, então você busca o fracasso como uma oportunidade para melhorar. As pessoas com uma mentalidade de crescimento se sentem inteligentes quando estão aprendendo, não quando são perfeitas.

Validar sua ideia não é importante, é essencial.

Apesar de na Polímatas praticamente só lidarmos com já donos de negócios (quase 90%), alguns deles vieram com uma ideia já concebida sem validarem com o mercado. Eventualmente, alguém vai comprar, mas a diferença entre ter um negócio sólido e ter algo efêmero é grande. Existe um problema entre aquele momento “ahá!” e você ver o seu site no ar – nós conseguimos validação com meia dúzia de pessoas e nos contentamos com isso. Nos meses seguintes, vemos um produto que não traz um fluxo previsível de receitas. E um negócio sólido é sobre fluxo previsível de receita.

Existirá pouca coisa que eu possa dizer sobre validação de ideias, no modelo mais óbvio do conceito, que já não tenha sido dita por aí. Contudo, o que queremos apontar aqui não é simplesmente validação se sua ideia tem mercado ou não, mas também entender quando você deve abandonar o barco – o outro lado igualmente importante da mesma moeda.

A Livia Kohiyama, sócia da Escola de Criatividade, um ícone de empreendedorismo criativo de Curitiba, nos contou sobre como ela decidiu abandonar dois produtos que eram “a menina dos olhos” da empresa, dois eventos que haviam trazido nome para a Escola de Criatividade. Eles já estavam consolidados no mercado, contavam com público cativo e todo mundo adorava trabalhar nesses projetos. Mas a verdade é que eles davam muito trabalho e o retorno já não era mais o mesmo. “Doeu, mas tivemos que admitir para nós mesmos que nosso filho não era tão bonito… que ele era feio mesmo!”, disse Livia. A nota de corte para decidir o que ficava e o que tinha que ir era simples: o que vendia, continuava na prateleira, o que não vendia, por mais legal que fosse, tinha que ficar guardado no fundo do baú.

Maycon Aram demorou 3 anos até explodir com sua cafeteira que vendeu 253 mil reais sem ter sido lançada. Ele montou uma empresa em torno de um produto de óculos sob medida, o único óculos 100% de madeira do Brasil. Durante 3 anos, Maycon tirava as medidas do rosto da pessoa e até mesmo desenhava um modelo de acordo com o pedido dela. A criatividade e o talento do empreendedor foram reconhecidos nos três maiores prêmios de design brasileiros: Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, Salão Design e IDEA Brasil. Devido ao alto grau de personalização, a capacidade de produção girava em torno de 3 ou 4 óculos por mês. Era muito pouco para sustentar um negócio de verdade. Entre uma tentativa e outra, ele chegou, em 2016, ao conceito da cafeteira sem energia elétrica, que foi um sucesso em sua campanha de financiamento coletivo, e hoje está entre as 10 maiores da história do Catarse.

Aí entra o nosso terceiro ponto.

Tenha metas e acompanhe.

Usualmente, quando nós pensamos em metas para negócios, falamos em salário, com pouca ou nenhuma visão de futuro ou planejamento. Infelizmente, acho que muitos empresários ainda pensam dessa forma, independentemente do tamanho, da receita ou da oferta de negócios. Quando finalmente colocamos algumas metas e números para acompanhamento, as famosas OKR do Google, fomos capazes de identificar onde estávamos pecando e buscarmos insights sobre o que nós precisamos ir atrás para melhorarmos. Por exemplo, antes a meta era simplesmente número de vendas. Ou seja, aquele funil de vendas básico: leads, contato, negociação e vendas. Hoje, como estamos convertendo nosso modelo de negócio para nos transformarmos em um serviço online de assinatura, podemos compreender melhor as nuances entre cada fase do funil. Por exemplo, no modelo de negócio da Polímatas, começamos a oferecer um serviço “trial” para as pessoas testarem nosso serviço antes de contratarem. Agora, somos capazes de buscar informações sobre por que as pessoas não assinam o teste, o porquê de elas assinarem e não usarem, as que usam e não fazem o upgrade e quem é que faz o upgrade. É mais informação e aprendizado sobre seu próprio consumidor, o que ele quer e o que ele não quer. Lembra sobre nosso ponto de validação das coisas que não dão certo?

Não vou comentar aqui sobre você criar índices de acompanhamento, pois você poderá encontrar muito mais no Google – estava me referindo à ferramenta de busca per se, contudo, ironicamente ou não, o livro que o Eric Schimdt, presidente e ex-chefe executivo (CEO) da Alphabet (holding que controla o Google), escreveu um livro falando sobre como o Google funciona.

Saiba com quem você anda.

“Diga-me com quem andas, que direi quem és”. Mais ou menos isso mesmo, cientificamente falando. Quando se trata de relacionamentos, somos muito influenciados – quer gostemos ou não – pelos mais próximos de nós. Isso afeta nossa maneira de pensar, nossa auto-estima e nossas decisões. Embora seja ideal estarmos cercados por pessoas positivas e solidárias que querem que você tenha sucesso, também é necessário ter seus críticos. De acordo com um estudo no Journal of Consumer Research, convenientemente intitulado “Diga-me o que fiz errado: especialistas procuram e respondem ao feedbacks negativos”, em tradução livre,  os novatos têm uma preferência por feedback positivo, mas os especialistas querem feedback negativo, para que eles possam fazer progresso.

Além disso, esta pesquisa da Universität Basel da Suíça, denominada “Pense em outros capazes e você pode fazê-lo! A auto-eficácia mensura o efeito da ativação do estereótipo sobre o comportamento”, em tradução livre, mostra que pensar em um estereótipo pode influenciar o comportamento subsequente de uma maneira consistente. Basicamente, ao sermos expostos ao estereótipo de alguém expert no assunto aumenta nossa confiança em nossa própria capacidade de fazer algo similar – em comparação a ser exposto com o estereótipo de alguém menos competente ou menos educado. O mesmo aconteceu num experimento, no mesmo estudo, com atletas e exercícios físicos.

Isso tudo para dizer que, se você for exposto com pessoas interessantes e competentes, você será mais eficaz na tarefa que desejar “imitar”. Muito mais do que aprender com o que eles estão fazendo, você será capaz de obter insights valiosos sobre o que você não deve fazer e inspirar-se com pessoas que tenham competências diferentes.

Na Polímatas, nós somos uma rede de mais de 120 empreendedores que se reúnem toda semana para falar sobre nossas práticas em negócios – o que tem dado certo, o que já tentamos e o que já deu incrivelmente errado. É um ambiente seguro para você se expôr e se permitir crescer. Nossos eventos tratam sobre pontos específicos do dia-a-dia de uma empresa.

Se você quiser estar em contato com empreendedores das mais diversas áreas, ouvir o que eles têm tentado e compartilhar um pouco do que você está fazendo, acesse nosso site: https://www.polimatas.com

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