Vivemos num país desigual, onde praticamente um terço da renda está concentrada em 1% da população. Pelo mundo vemos pessoas morrendo de fome enquanto em outros lugares do mundo alimentos são desperdiçados. Mas além da desigualdade, também observamos um aumento dos índices de depressão e de suicídio dentre as pessoas que têm condições de vida muito boas. Sentimos na nossa saúde a consequência da forma que estamos nos relacionando com a natureza, seja pelo aumento das temperaturas, pela poluição do ar que respiramos ou por tantas outras coisas que não nos damos conta. O mundo está um pouco desequilibrado, bem como a maneira como nos relacionamos com ele.
O que o dinheiro significa para você?
Uma das coisas que tem sido muito o foco da nossa sociedade atualmente é a nossa relação com o dinheiro. Parece que o dinheiro deixou de ser um meio para podermos adquirir produtos e serviços e passou a ser um fim em si mesmo. A importância do dinheiro como meio de troca é inquestionável: através dele podemos fazer trocas de maneira muito mais eficiente. Porém, quando o dinheiro vira um objetivo em si mesmo, a relação se desequilibra: a renda se concentra na mão de poucos, a desigualdade social aumenta e o planeta paga a conta através da exploração de seus recursos. E não necessariamente a parcela que está concentrando mais renda está mais feliz.
Esse ano tive a oportunidade de participar de uma palestra sobre dinheiro e consciência. A iniciativa fez parte de um ciclo de palestras, oficinas e conferências organizados pelo EcoSocial e pela Fundação Avina, que trouxeram Joan Antoni Melé ao Brasil. Joan é espanhol, conta com mais de 30 anos de experiência trabalhando em bancos e foi vice presidente do Triodos Bank, um dos primeiros primeiro bancos éticos do mundo e de maior êxito até o momento.
Saí da palestra profundamente tocada e coloquei muita coisa em perspectiva desde então. Dentre tudo que escutei trago aqui as principais ideias. O dinheiro é uma energia muito poderosa e tem o poder de transformação. Então, porque não utilizarmos para construir o mundo que queremos?
O uso do dinheiro reflete nossos valores
De um modo geral, podemos nos relacionar com o nosso dinheiro de diversas formas, mas há três principais maneiras de utilizá-lo:
- Comprando
- Poupando
- Doando
Se partirmos para uma reflexão sobre essas três formas, abrimos espaço para repensar nossas atitudes.
Ao comprarmos algo – um produto ou serviço, existe uma dimensão mais profunda, relacionada não à nós como indivíduo, mas a um contexto: uma decisão de adquirir um produto ou serviço está relacionada com o respeito pelas pessoas e pelo meio ambiente. Explico com um exemplo recente: por conta do Fashion Revolution Day muitas pessoas começaram a se perguntar quem faz as nossas roupas. Trata-se de um grande movimento de conscientização: em 2013 mais de mil pessoas morreram e centenas ficaram feridas num acidente em Bangladesh numa fábrica têxtil. O que isso tem a ver conosco? Podemos estar comprando algo barato e na cadeia produtiva alguém ou o planeta pagou caro por isso.
Poupar significa investir nossos recursos para utilizá-los no futuro. Podemos fazer isso de diversas formas: comprando um imóvel, investindo em ações, etc. Uma das formas mais usuais é investindo nosso dinheiro em bancos. Ao colocar nosso dinheiro no banco, ele passa a circular e financiar outros negócios, como por exemplo através de uma linha de crédito que financia determinado empreendedor ou empreendimento. Hoje não temos visibilidade de qual é esse negócio que nossos recursos estão alavancando. Podemos estar investindo em indústrias de armas, em empresas que não que não oferecem condições mínimas para seus funcionários. E se nos perguntarmos: onde está o nosso dinheiro agora e qual é a realidade social ele está gerando no mundo, saberíamos a resposta?
A terceira possibilidade de nos relacionarmos com o nosso dinheiro é doando. Hoje no Brasil não há uma cultura de doação comparado a outros países denominados ”desenvolvidos” (EUA e países da Europa) ou até mesmo com Mianmar e Indonésia (#1 e #2 do Ranking World Giving Index). Há inclusive estudos que correlacionam a importância de ter uma cultura de doação para o desenvolvimento do país, solucionando problemas sociais (fome, educação) e ambientais. A falta da nossa cultura de doar, segundo os estudos, é fruto da falta de confiança – nas instituições (judiciais, policiais, militares e governo) e por consequência nas instituições sociais. Doar é portanto um ato de confiança, pressupõe uma relação muito saudável com o dinheiro e um desprendimento de doar para que próximo realize. Uma doação consciente significa o compromisso que une quem realiza com quem a recebe, ambos igualmente responsáveis pelo destino da doação.
Uma nova realidade se criando
A partir desse movimento de reflexão individual e coletiva sobre os usos do dinheiro, surge uma nova consciência e também uma nova realidade. Muitas instituições alinhadas com esse propósito surgiram. Uma delas, chamada de SistemaB, é um movimento global que pretende redefinir o conceito de sucesso nos negócios. O que quer dizer que para um negócio ser bom de verdade ele precisa gerar impacto positivo para a sociedade, seus colaboradores, para a comunidade e para o meio ambiente. Outro movimento chamado capitalismo consciente também compactua de valores semelhantes. Aos poucos se abre espaço para o surgimento de uma economia integrada com a realidade social e ambiental.
Com o sistema bancário também não é diferente: uma rede independente chamada Aliança Global para um Sistema Bancário com Valores foi criada em 2009 por 11 bancos especializados em finanças éticas: usando as finanças como força motriz para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Atualmente são mais de 40 bancos mas ainda nenhum no Brasil.
A proposta desses encontros com Joan Antoni Melé é evoluir para a criação de uma rede sobre dinheiro e consciência e um banco ético no Brasil. A ideia é transformar os negócios existentes, numa grande onda de resgate de valores que o mundo e o Brasil urgem por. Essa rede é aberta e a todos aqueles que desejam atuar em prol de uma relação mais consciente com o dinheiro.
Agora é conosco
É chegada a hora de ressignificar nosso uso do dinheiro em todas as suas dimensões e colocar consciência nas nossas escolhas.
E por mais que possa parecer que nossas escolhas individuais não tem escala, a força das pessoas está no consumo e na economia:
“Considerando que o mercados somos todos nós, se todos mudamos nossa maneira de pensar, de ser, de agir e de investir nosso dinheiro, o funcionamento e a direção do modelo econômico mudará. Isto não é utópico. O Estado, os bancos, a indústria se movem em função do dinheiro que os indivíduos, os cidadãos, a coletividade administram. Portanto, o poder do cidadão não reside em seu voto, mas no uso que faz o seu dinheiro, sua forma de consumir. “
(In: Dinheiro e Consciência – A quem meu dinheiro serve – Joan Antoni Melé)
Além disso, cabe também reavaliar nossa relação com o dinheiro: quanto o sucesso é medido em dinheiro? Quanto o dinheiro é visto como objetivo prioritário, senão único sentido das nossas vidas? Antes de sermos consumidores, somos indivíduos livres para fazer nossas escolhas de maneira independente. Como diria Joan Melé, enfrentar com sinceridade e valentia nossa relação com o dinheiro é algo que nos permitirá alcançar nossa dimensão mais humana.
Tenho formação universitária em Educação em Química, desisti da profissão aos 30, em seguida por questões de saúde busquei boa formação de Tai Chi com Mestre Liu PaiLin, introdutor desse conhecimento no Brasil na década de 1970. Curei-me, joguei tudo pra cima e comecei a trabalhar com Medicina Tradicional Chinesa. Acabo de entrar no 60+, começo a receber 1 salário mínimo de aposentadoria, e “de agora para sempre” preciso mudar o foco do trabalho: de terapeuta para formadora de terapeutas. E preciso aprender a divulgar meu trabalho (haja paciência para Instagram!! Tem como gostar disso, ou tenho que lançar mão, gostando ou não?)
e a lidar com valores. Especialmente como valorar meu trabalho com a mesma segurança que tenho em transmitir um fantástico conhecimento adquirido a duras penas ao longo de cerca de dez anos.
E então também aprender a administrar esses valores que vou obter com esse trabalho que tem potencial de ajudar muitas pessoas nos quesitos saúde e equilíbrio emocional, para dizer o mínimo.
Preciso enfim plantar novo campo para boas colheitas na velhice, saindo desse angustiante padrão de apreensão financeira.
Bem, do que li, me parece bom ler o livro “Me poupe”. Vou comprá-lo e começar por aí…
Oi Josefina! Tudo bem? Mas que trajetória de vida a sua, em? Vibramos aqui lendo seu depoimento.
Desejamos toda a sorte do mundo na sua ‘nova’ trajetória. Nos passe seu Instagram para divulgarmos seu trabalho na Profissas! O que acha?
Um abraço!