Esse ano fui inundada de textos de blog e reportagens sobre ser mãe e ter uma carreira. Não que esse seja um assunto novo, mas acho que quanto mais velha eu fico, e mais a escolha da maternidade se torna iminente, mais o tema chega a meu conhecimento.
Sim, esse é um texto sobre mães e profissões em pleno agosto, porque acreditamos, realmente, que dar holofote à mãe não é luxo do segundo domingo de maio. E, quando fui a campo perguntar às mães do meu convívio quais são os desafios da jornada dupla, lembrei da minha mãe.
Em resumo, dona Eliane é advogada e, hoje, gerencia uma pequena pousada (mas bem fofinha, olha só) em Tiradentes, interior do estado de Minas Gerais. Desde que me conheço por gente ela é advogada. Na minha infância e do meu irmão, três anos mais novo, nossa rotina era assim: ela saía pra trabalhar, de manhã minha avó dava uma ajuda pra nos arrumar pra escola, almoçávamos com minha mãe a avó, íamos pra escola e, ela, pro trabalho.
Nunca era certo quem chegaria primeiro em casa ao fim do dia. Eu, por exemplo, já fui “esquecida” no ônibus da escola e cheguei em casa só depois das 20h. ;p
Brincadeiras à parte, essa era a rotina da minha mãe.
Hoje ela ainda advoga, mas bem pouco. Vai virar sessentona em setembro e se descobriu, recentemente, artista plástica. Faz cada quadro que vou te falar. Vive na pousada, passa uns apertinhos financeiros, mas acho que ela gosta mais da vida que tem agora do que a de vinte anos atrás.
(Mãe, se você ler isso, deixa a resposta nos comentários!)
Fato é que dona Eliane foi mãe e profissional pelos últimos 31 anos e continua sendo as duas coisas. Hoje, batendo na porta da melhor idade, equilibra melhor os pratinhos. Contudo, é da geração que trabalhou pela aposentadoria, ou seja, sonhou com o dia em que teria sombra, água fresca e dinheiro no bolso para passar os próximos 40 anos na ponte aérea Brasil-Bahamas.
E, como a gente sempre vê por aqui, não somos mais essa galera que quer esperar pra curtir depois dos 56. Como fazer, então, com a escolha de ser mãe, profissional, viver pelo propósito e buscar autoconhecimento ao mesmo tempo?
Poderia ser tema do Globo Repórter da próxima sexta, mas vamos falar sobre isso hoje mesmo.
Os desafios da mãe profissa
Tenho sorte: muitas das amigas da minha faixa etária (tenho 31, então vamos estipular entre 25 e 35 anos) já são mães e têm carreiras. Algumas delas trabalham em regime CLT e outras se lançaram no trabalho autônomo, vivendo de freela ou sendo empresárias.
O melhor de tudo é que com elas não tem romantização nenhuma. Amam seus filhos, mas sabem, e relatam, que não é tarefa fácil, e que ser “reduzida a mãe” é um desestímulo profissional. Afinal, tiveram todas uma vida inteirinha antes dos rebentos nascerem, se educaram, se profissionalizaram e não é justo achar que, agora, ser mãe é a única coisa que podem – ou devem – fazer na vida.
Perguntei a elas os desafios de ser mãe e ter uma carreira ao mesmo tempo, mas pedi respostas sinceras, longe do espectro de “guru da maternidade profissional”.
Eis as respostas que obtive:
Desafio #1 – Trabalhar fora
Toda mulher é mulher antes de ser mãe, e não acredito, mesmo, que a maternidade possa reduzi-la apenas à funcionalidade de criar filhos. Contudo, é inegável que a maioria das mães adora estar perto de suas crias, principalmente quando elas ainda são bebês.
Portanto, um grande desafio das minhas amigas que trabalham fora é justamente esse: ficar fora o dia todo, tendo que colocar a criança mais cedo na escolinha e passando pouco tempo com ela.
Muitas sentem estar perdendo o crescimento dos filhos – e sentem culpa por isso. Às vezes, não por conta própria: vale lembrar que a sociedade e o mercado de trabalho vivem de apontar dedo para as “cruéis mães que escolhem primeiro a carreira, depois a família”, como se as duas coisas não pudessem, absolutamente, viver em harmonia.
De todo jeito, elas sentem culpa, tristeza, um vazio quando chegam em casa e os filhotes já estão dormindo.
Uma solução possível, para muitas, poderia ser uma profissão com horário mais flexível, como a de freelancer. Mas, enquanto isso não é possível, o desafio é enfrentado diariamente por milhares de mulheres que queriam conviver mais com seus filhos.
Desafio #2 – Manter organização de tarefas
Tenho uma amiga que, recentemente, se lançou na carreira de tatuadora. Ela sempre foi muito talentosa, fez cursos e está arrasando no ramo da tatuagem. Divorciada, com duas filhas, viu na arte uma nova forma de sustento.
Investindo todas as fichas, alugou um estúdio na cidade onde mora para atender aos clientes… acontece que ela nunca consegue, de fato, estar no estúdio, pois as meninas exigem dela em casa – e a própria casa exige também! Imagina dar conta, sozinha, da organização, faxina, alimentação, compras, leva e traz de gente na escola e deslocamento para o local de trabalho…
Não é fácil, principalmente quando não há apoio, de marido ou esposa presente, para delegar, dividir e reorganizar tarefas da rotina diária.
No caso da minha amiga, que precisa trabalhar em ambientes higienizados e esterilizados para o trabalho, talvez não fosse possível unir tudo em uma coisa só; já quem pode fazer da casa o home office consegue centralizar, pelo menos um pouquinho, a demanda desenfreada da organização do lar.
Desafio #3 – Gravidez não planejada x Trabalho Autônomo
Se estar empregada com horário fixo de trabalho já é um desafio, como no ponto #1, também há dor e delícia em viver do trabalho que se escolhe. Isso significa que, sem organização prévia, a maternidade no regime autônomo pode trazer algumas dificuldades, como a diminuição do atendimento a clientes ou a própria energia para seguir em frente.
Principalmente durante a gravidez.
Tenho uma amiga descobriu, ano passado, que estava grávida. Ela tinha muitas fontes de renda, como ser instrutora de ioga, cozinhar por encomenda, alugar quartos no AirBNB e atender como massoterapeuta. Sua média de trabalho semanal era de 40 horas, o mesmo tanto que um trabalhador regular de empresa.
Na época, não planejava ter filhos, então não ter renda fixa ou estabilidade financeira não era um problema… até esse desvio brusco de rota.
Durante a gravidez, reduziu as horas de todos esses trabalhos e, quando o neném nasceu, ela não conseguia organizar seu tempo, se sentia cansada e com muitas dores por conta da amamentação. Conclusão: parou de cozinhar, aplicar massagens e dar aulas de ioga. De repente, sua única fonte de renda era o anúncio do AirBNB – mas ela diz que começou, também aí, a falhar com coisas que jamais aconteciam antes.
Para não perder os alunos de ioga, contou com a parceria de outros instrutores, mas nem todos os alunos continuaram sem ela. Três meses depois desse turbilhão ela ainda não conseguiu reestabelecer sua rotina de trabalho.
Pra completar, acaba de se mudar de estado, perdendo, também, a renda do AirBNB.
Por ser autônoma e informal, não tem licença remunerada pra ela… e já vê que, daqui a pouco, vai ser a mãe do primeiro grupo: gostaria de ser a cuidadora de seu filho, mas provavelmente terá que abrir mão disso para complementar a renda da casa.
Ela está no mesmo barco que a maioria das brasileiras que se veem em um cenário de gravidez não planejada. Passado o susto, grande parte delas abraça a nova condição de peito aberto, amor e coragem, mas a realidade é que ser autônoma pesa nesse cenário inesperado.
É preciso, então, ter uma boa reserva financeira para emergências a fim de superar esse novo desafio – e poucas coisas na vida são tão emergenciais quanto ter um novo ser humano dependendo de você para viver.
E agora?
Se você já ficou de cabelo em pé só de imaginar esses cenários, ou já sente “culpa preventiva” por não cuidar dos filhos, mesmo se ainda não é mãe, respira e não pira: tem jeito pra tudo nessa vida e conciliar a maternidade com a carreira é apenas mais uma das coisas que necessitam sua atenção.
O importante é lembrar, sempre, que elas não são excludentes. Uma mãe que quer trabalhar não deve deixar de fazê-lo só por ser mãe, assim como uma profissional que sonha em ter filhos não deve adiar seus planos só porque precisa trabalhar.
Com atenção aos detalhes e foco no que é prioridade, existem muitas formas de achar um espacinho confortável no meio dessa equação maluca.
Para não se sentir perdida, conte com uma rede de apoio, converse com amigas e outras mães que possam entender sua situação e troque experiências de vida. Quando os filhos são pequenos, demandam mais cuidados; mas, conforme crescem, é cada vez mais palpável a conciliação dos dois papéis na vida de uma mulher.
Dentre as muitas saídas, recentemente conheci e me apaixonei pela Casa Beta, uma plataforma de conteúdo virtual 100% feminina, que aposta na criatividade das mulheres como grande diferencial para vida e carreira.
Em parceria com artistas mulheres, Casa Beta oferece aulas online que estimulam o desenvolvimento criativo. A ideia é estimular o público a desenvolver o lado manual, que voltou com tudo, nos últimos anos, apostando no potencial criativo feminino como uma forma de mudança social.
Para conhecer a Casa Beta é só clicar aqui!
Sabemos que para qualquer sonho, a regra é a mesma: dedicação, organização e objetividade. Quando a gente racionaliza um desafio, ele se torna menor do que parece.
Pelo menos foi isso que muitas mães já me disseram. 😉
Tem desafios da maternidade e carreira que queira compartilhar – ou soluções válidas aos anseios de outras mães? Participe nos comentários!