Quem poderia imaginar que algo previsto para acontecer em 2025 pudesse ocorrer em tão curto espaço de tempo? A pandemia da Covid-19 demandou o isolamento e, assim, antecipou mudanças sociais. Houve aceleração do uso da tecnologia, flexibilização do trabalho, avanço na conexão entre inovação e sustentabilidade, aumento na exigência dos consumidores.
As alterações no modo de consumo e o surgimento de novos postos de trabalho forçam as empresas a buscar profissionais que juntem atributos técnicos e comportamentais, capazes de atender as demandas das empresas, que estão cada vez mais diversificadas, e dos usuários ávidos por experiências únicas.
O comunicador, empreendedor, palestrante, autor e filantropo brasileiro, Marc Tawil destaca que, entre as principais transformações sociais estão as do trabalho. Segundo ele, o mundo conectado tende a ser mais inclusivo e isto reflete diretamente no mercado. Paralelamente há preocupação maior com a questão da entrega, o que exige alteração radical de postura profissional.
Digitalização
Tawil enfatiza cinco transformações para o mercado de trabalho. A primeira, a digitalização, permite o intercâmbio de empresas em todos os cantos do mundo, e a união de talentos para se fazer algo realmente escalável, em ambiente colaborativo. Fique atento, pois este é um fenômeno irreversível!
Anywhere office
A segunda tendência é o anywhere office, ou seja, a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar, desde que se tenha acesso a computadores, tablets, ou smartphones e, é claro, internet. Assim, o profissional poderá realizar seu trabalho sob demanda. Vale ressaltar que apenas uma parcela da população desempenha suas funções desta forma.
Mescla de gerações
A terceira mudança é a diversidade intergeracional, pois, pela primeira vez na história, é possível ver seis gerações, cada uma com suas peculiaridades, trabalhando juntas. O mais incrível é que elas não estão tão desiguais no modo de conduzir seus trabalhos. É inegável que culturas e gerações mescladas trazem novos olhares e experiências para o ambiente corporativo.
Tawil ressalta que a digitalização insere todos em uma mesma página, pois há jovens com alma velha e gente mais madura fazendo coisas incríveis no digital.
Entretanto, poucas corporações atentam para o fato de que a inclusão de profissionais de acima dos 40 torna o ambiente mais rico e auxilia na tomada de decisões. Deploravelmente determinadas empresas descartam currículos de pessoas mais velhas, como se estas já estivessem obsoletas.
Profissionais maduros possuem experiência profissional que vai além da formação técnica. Eles são capazes de se autoavaliar e de se aprimorar. São detentores de valiosíssimas soft skills que só a experiência é capaz de desenvolver, como empatia, resiliência, autoaprendizado, capacidades de ouvir e de superação, estratégia.
Hard skills + soft skills= real skills
A quarta mudança relatada por Tawil é a incorporação das real skills, ou seja competências híbridas, que reúnem soft e hard skills. Fica claro que, diante de um mercado em franca transformação, é necessário investir em talentos que agreguem conhecimentos técnicos e comportamentais, para que as organizações estejam preparadas para uma nova maneira de lidar com tecnologia, digitalização e humanização no relacionamento com seus stakeholders. Cada vez mais, corporações buscam profissionais que preencham esses dois quesitos.
Supercomunicação
Supercomunicação é a quinta transformação citada pelo empreendedor, pois ela é capaz de engajar pessoas, posicionar profissionais, além de promover autoconfiança e transparência. Toda mensagem deve reforçar, valorizar uma intenção, ser clara, objetiva e empática, a fim de evitar mal- entendidos.
Competências técnicas
Colaboradores geralmente são direcionados a cargos por meio de suas hard skills, tornando a empresa referência no mercado. Como consequência, os funcionários também podem se destacar e alavancar suas carreiras.
Profissionais conquistam capacidades técnicas por meio de graduações, pós- graduações, cursos livres, experiência, etc. Por outro lado, jovens gestores de startups já atentam para o fato de que o real conhecimento vale mais que acúmulo de diplomas.
As competências técnicas possuem três estágios: básico, fundamental e complexo. E nada melhor que anos no mercado de trabalho para dar um up na carreira, além da disposição de estar em constante processo de aprendizagem. Então o que você está esperando para ir além do conhecimento acadêmico?
Competências comportamentais
Uma coisa é inegável: o mundo globalizado exige competências comportamentais, pois apesar de não serem facilmente detectadas em currículos, constituem um diferencial. Já que as empresas do século XXI integram seis gerações, precisamos atentar para a necessidade de contratação de profissionais que saibam lidar com a diversidade, não apenas de faixas etárias, mas em todos os níveis. Daí a importância de qualidades como capacidade de comunicação, bom relacionamento interpessoal, paciência, superação, entre outras.
As soft skills são capazes de definir a cultura organizacional de uma corporação. Entre os predicados mais requisitados pelas empresas estão perfil colaborativo, habilidade para lidar com assuntos ambíguos e análises, aptidão para resolução de conflitos internos, adaptabilidade, criatividade, inovação, e, é claro, comunicação.
Nem o RH escapa das transformações tecnológicas
Até mesmo profissionais de Recursos Humanos tiveram que se adaptar aos novos tempos, fazendo uso de softwares, ferramentas e modelos de gestão. A evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação permitem processos seletivos capazes de identificar pontos fracos e fortes dos candidatos, e oferecem um dashboard completo dos profissionais avaliados, permitindo, assim, um mapeamento comportamental mais complexo destes. Com o uso da Inteligência Artificial é possível detectar perfis mais alinhados ao propósito das empresas, por meio de testes de perfil, acesso a banco de talentos, e uso de dados e Analytics.
Algoritmos e feeling para identificar skills
A Gupy, por exemplo, é especializada na criação de vagas personalizadas, e fornece informações, testes e etapas adequadas para cada empresa. A ferramenta realiza uma gestão eficiente na divulgação online em diferentes portais e redes sociais, e trabalha com algoritmo capaz de promover agilidade na triagem de currículos, reduzindo o tempo de fechamento de vagas em até 50%.
O software faz a análise de indicadores de performance do recrutamento e seleção, para que profissionais de RH possam focar nos itens mais relevantes, e também promove a otimização de processos de gestão, com etapas bem definidas e executadas de forma eficiente.
Existe uma infinidade de testes técnicos e comportamentais, com uso de entrevistas, provas de conhecimento, dinâmicas em grupo, atividades lúdicas, gamificação, entre outros processos, que exigem expertise por parte dos recrutadores. Ufa! Eles precisam ter um feeling apurado para fazer a triagem e identificar os melhores candidatos.
Mudança de mindset
Se até profissionais de RH são detentores de real skills, o que pensar dos candidatos? Na realidade, o que determinará o sucesso de um colaborador em uma empresa, além do conhecimento técnico, serão suas práticas e condutas em conformidade com o clima organizacional da instituição, seu relacionamento com os stakeholders e o comprometimento com o trabalho.
Busca de assertividade
Assertividade é o que empresas buscam na hora de contratar, mas, ao contrário do que muitos pensam, a palavra não significa acertar e sim asserir, declarar, afirmar (algo). No mundo corporativo é necessário afirmar e firmar-se o tempo todo. Então, o que não falta é cautela no processo de seleção.
Como são raros os multiprofissionais (aqueles que fazem de tudo), no ato da seleção é preciso avaliar o conjunto de habilidades técnicas e comportamentais, mesmo que elas não sejam 100%, além do caráter dos candidatos.
Capital humano
Arrisco a dizer que investimento em capital humano é a contratação mais adequada. Não existe nada mais altruísta que inserir o colaborador na empresa, não como um número, mas como um profissional que será habilitado para exercer com maestria sua função. Afinal de contas, do que adianta você ter em seu escritório um poliglota, que domina Programação como ninguém, mas que, sem empatia, não sabe lidar com sua equipe e seus clientes?
Quem já leu o livro “Empresas Humanizadas: Pessoas, Propósito, Performance”, de autoria de Raj Sisodia, David B. Wolfe e Jag Sheth, está a par dos esforços que determinadas empresas norte-americanas fazem no sentido de promover conhecimento entre seus colaboradores, por meio de treinamentos, palestras, intercâmbios, cursos e outros recursos.
Fico pasma ao ver que, em determinados grupos de oportunidades de emprego, uma mesma vaga é divulgada a cada seis meses, o que demonstra falta de traquejo para engajar e reter funcionários. Infelizmente certos gestores ainda acreditam que demitir vale mais a pena que apostar na capacitação de seres humanos, porém sabemos que habilidades e performance são alcançadas por meio da educação corporativa.
Comparando as skills à música
Costumo comparar as skills no ambiente empresarial à composição musical. No processo de criação precisamos atentar para ritmo, melodia, letra e interpretação. Qual estilo musical será criado? Que tema será abordado? Qual será a alma da música?
A criação pode começar apenas com um riff, refrão ou letra, e esta precisa se encaixar perfeitamente à melodia. Mas qual é o propósito da música? Para que ela serve e quais sentimentos provocará? Mesmo depois de composta, ela precisará ser aprimorada (e isso leva certo tempo), para que depois você possa dizer: está pronta!
Colaboradores e gestores não vêm prontos, precisam estar em constante processo de criação. A equipe necessita mergulhar na missão, visão e valores da organização (pasme, mas muitas instituições desconhecem o motivo pelo qual foram criadas!). E para que isso ocorra, cada um deve saber exatamente que nota deve tocar para estar em harmonia com os demais.
Reparou que, para que o produto final atenda à demanda do consumidor, empregados e líderes necessitam estar em total sintonia, por meio do aperfeiçoamento de suas habilidades e competências técnicas e comportamentais? E como ninguém é um “sabe tudo”, o ideal é investir nas skills mais aparentes de cada um e incentivar a aquisição de novas, o que é válido também para profissionais em busca de oportunidades no mercado de trabalho.
Como abordamos no artigo “Como identificar e adquirir habilidades técnicas e comportamentais”, as soft skills podem estar mais perto do que você imagina. Elas são identificadas de diversas maneiras: por meio de testes vocacionais e psicológicos, coach, mentorias ou pela simples observação de suas aptidões intelectuais, sociais, organizacionais, comportamentais e comunicacionais.
A casa não está pronta: precisa ser construída
Lembre-se: você pode conhecer um pouco de tudo e ser bom em algo específico. Isso ajuda muito, mas esteja atento, porque o processo de aprendizagem ocorre como a construção de uma casa: primeiro você aterra o solo, depois faz a fundação para suportar o peso da edificação. Posteriormente constrói paredes, portas, janelas, telhados.
Aí vem o acabamento. E, certamente, depois você vai querer quebrar alguma coisa, instalar mais cômodos, aumentar o jardim, e, quem sabe, erguer novas casas.
A trilha do conhecimento
Se você está empregado, cuidado! Nunca ache que sabe tudo. Sempre existirá alguém melhor que você, mas não se preocupe! A jornada do conhecimento é uma estrada longa, repleta de bifurcações, esperando que você escolha uma delas, para trilhar com dedicação e amor.