Trabalhar no exterior é um daqueles sonhos que sempre esteve presente na vida do brasileiro “comum”. Seja por consequência do complexo do vira-lata ou pela expectativa de um retorno financeiro bem maior do que recebemos nas terras tupiniquins, a verdade é que “trabalhar fora do país” sempre foi sinônimo de sucesso para a maioria de nós.

No entanto, ao mesmo tempo em que esse sonho esteve presente em nossas vidas, vejo que ele também sempre foi acompanhado de um sentimento negativo, de que conseguir um trampo lá fora é coisa de gente sortuda, que nasceu em berço de ouro.

Minha missão hoje é te provar o contrário.

Quero não apenas desmistificar essa ideia de que trabalhar lá fora é impossível, como também proporcionar um passo a passo simples, baseado inteiramente em minha experiência de vida.

Eu terei cumprido minha missão se, nos próximos três meses, você já tiver pelo menos uma oportunidade real de trabalho no exterior.

Portanto, vamos ao que interessa!

Passo 1: Tire seu Passaporte

Eu sei, você estava esperando um início mais excitante e “revelador”.

Mas se eu te contasse a quantidade de oportunidades de trabalhar no exterior que já vi serem perdidas, simplesmente por causa da pessoa não ter um passaporte, você iria concordar que este deve ser sim o primeiro passo – mesmo se você ainda não tiver nenhuma expectativa de sair do Brasil.

O motivo dessa “pressa” é bem simples: a emissão do passaporte no Brasil é feito pela Polícia Federal e, como qualquer outro órgão público, está constantemente suscetível às greves e atrasos burocráticos.

Parece exagero?

Recentemente a Polícia Federal anunciou que a confecção de passaportes no Brasil seria suspensa, por falta de dinheiro. No momento em que eu escrevo tudo já foi normalizado, mas não dá para arriscar, certo?

Para tirar o passaporte, tudo o que você precisa fazer é:

• Realizar o cadastro no site da Polícia Federal;
• Efetuar o pagamento da taxa (GRU), que atualmente é de R$ 257,25;
• Fazer o agendamento da visita à unidade da PF se sua cidade;
• Comparecer no dia agendado com todos os documentos necessários.

Passo 2: Aprenda a encontrar uma oportunidade real

Existem centenas de caminhos que uma pessoa pode percorrer até conseguir um trabalho no exterior. No meu caso, por exemplo, o que funcionou muito bem foi me candidatar em um programa de intercâmbio agrícola.

 

Levando em consideração a grande variedade de oportunidades que existem de trabalho fora do Brasil, a seguir vou listar algumas formas de encontrar uma oportunidade real – ou seja, que realmente possa resultar em você sentado em um avião, indo para outro país e com um contrato de emprego assinado.

1. Visite o banco de oportunidades dos sites de imigração do Canadá e da Nova Zelândia (outros países oferecem serviços parecidos, mas esses dois são os mais completos que conheço).
2. Assine as newsletter de sites especializados em recrutar talentos para startups, como o Get Apprenticeship e Jobbatical.
3. Se não se importar em trabalhar em locais mais remotos, considere se inscrever em um programa de intercâmbio agrícola. Existe um investimento inicial, mas geralmente ele “se paga” em menos de três meses lá fora.
4. Crie alertas no Google Alertas para as palavras “oportunidade de trabalho no exterior” ou “empresa no [nome do país] contrata”.
5. Participe de grupos do Facebook criados por brasileiros no exterior para acompanhar oportunidades. Alguns exemplos de grupos bem movimentados são Brasileiros em Paris, Brasileiros na África do Sul e Brasileiros em Portugal.
6. Perguntar não ofende! Peça indicação de amigos e colegas de trabalho sobre pessoas que trabalham no exterior e envie mensagens para elas, pedindo informações mais específicas sobre como ela conseguiu chegar lá.

Como mencionei, existem centenas de caminhos que podem ser corridos até o seu primeiro emprego fora do país. Contudo, se você colocou em prática pelo menos duas das dicas acima, já podemos seguir para o próximo passo.

Passo 3: Faça uma lista de oportunidades

Um erro bastante comum que vejo as pessoas cometerem ao procurar um trampo no exterior é não se organizar para o processo burocrático que normalmente existe atrás das melhores oportunidades.

Afinal, você não achou que bastava preencher um formulário online, comprar a passagem e começar a trabalhar no exterior na próxima segunda-feira, né?

A solução prática que encontrei para lidar com todos os processos burocráticos foi criar uma “Lista de Oportunidades”, na qual se registra todas as oportunidades que a pessoa julga ser interessante para ela.

Um exemplo de lista de oportunidades, no meu caso, seria:

1. Trabalhar como Trainee pelo CAEP.
2. Enviar meu currículo para empresas cadastradas no Immigration Canada.
3. Entrar em contato com empresas que possuem histórico de contratar brasileiros.
4. Ligar para um amigo que está trabalhando nos EUA e perguntar se ele conhece alguma oportunidade interessante.

Com todas essas oportunidades registradas (preferencialmente com papel e caneta), você já vai ter um “brainstorm de oportunidades” e ainda conseguir se organizar para dar os próximos passos nos processos burocráticos.

Um método que funciona muito bem para mim é colocar esta lista na minha mesa de trabalho e, todo dia, antes de dormir, realizar pelo menos uma ação em cima de uma oportunidade.

Passo 4: Seja consistente

Fazendo uma conta básica e partindo da suposição que apenas 20% dos seus contatos irão responder, em dois meses é muito provável que você esteja conversando diretamente com cerca de dez empresas interessadas em contratar um profissional estrangeiro.

Contudo, é muito importante levar em consideração que a maioria dessas empresas recebe dezenas (até centenas) de currículos por mês, e a resposta pode demorar ou simplesmente não vir nunca.

E, nessas horas, você só tem uma coisa a fazer: insistir.

Marque na sua “Lista de Oportunidades” quando foi o último contato com a empresa (ou pessoa) no exterior e, se ela não tiver respondido em duas semanas, entre em contato novamente solicitando informações sobre o seu processo.

Não tenha medo de “ser chato”. A grande maioria das pessoas desistem no primeiro contato e, portanto, ser persistente é uma forma de se destacar aos olhos da empresa contratante.

Aliás, se você se garantir no inglês, considere colocar uns créditos no Skype e ligar diretamente para ela. De acordo com Ross McCammom, empreendedor e editor do site Entrepreneur.com, as pessoas costumam dar muito mais importância às chamadas por telefone do que e-mails.

Considerações finais sobre trabalhar fora do Brasil

Abri este texto argumentando que trabalhar fora do país sempre foi um sonho presente na vida da maioria dos brasileiros.

Agora, no fim, sinto-me obrigado a esclarecer que, apesar da experiência ser incrível, conseguir um trampo lá fora não deve ser encarado como sinônimo de sucesso – inclusive, atualmente temos uma ideia bem errado de “sucesso”.

Gostaria de ressaltar isso porque vejo muitas pessoas apostando todas as fichas neste sonho e acreditando que “todos os seus problemas serão resolvidos” quando elas conseguirem o primeiro emprego fora do Brasil, mas a realidade é que lá fora você provavelmente vai trabalhar muito mais do que aqui, provavelmente ter dificuldade em se comunicar e nem sempre vai receber mais por isso.

Em outras palavras, encare a possibilidade de trabalhar no exterior como uma oportunidade para viver uma experiência inesquecível, mas tenha sempre em mente que a sua felicidade não depende da sua localização na Terra, mas sim de como você lida com as suas expectativas.