“Só há um caminho para a felicidade (que isso esteja presente no teu espírito desde a aurora, dia e noite): é renunciar às coisas que não dependem da nossa vontade” – Epicteto, 55 d.C
Em meio à uma diversidade quase infinita de filósofos, linhas de pensamento, teorias e escolas, são poucas as filosofias que podem ser usadas para gerar mudanças significativas no dia a dia de uma pessoa comum – isto é, no trabalho, nos relacionamentos, na saúde e no estilo de vida.
Infelizmente, a maioria dessas filosofias são ignoradas pelo ensino tradicional por não deixar brechas para ambiguidades e relativismos, ambos ingredientes indispensáveis para se criar um sistema de ensino burocrático e ineficiente.
Hoje vou explorar uma (e talvez a principal) dessas filosofias, que atualmente é usada por milhares de empreendedores e profissionais de sucesso ao redor do mundo não apenas para criar negócios lucrativos, como também para viver uma vida mais consciente, feliz e plena.
A filosofia do empreendedor é o estoicismo
Ao pesquisar sobre uma determinada filosofia, é comum nos depararmos com definições extensas sobre os contextos históricos nos quais ela foi criada e perfis completos sobre os seus principais pensadores.
Acontece que, ao meu ver, a história de uma filosofia é muito menos importante do que seus princípios e aplicações práticas. Portanto, se você quiser uma visão “acadêmica” do estoicismo, recomendo a Wikipedia.
Agora, se quiser uma explicação mais próxima à sua realidade e que lhe ajude a melhorar a sua vida (como empreendedor ou não) imediatamente, vem comigo.
O estoicismo, por si só, não se preocupa com teorias complicadas sobre o funcionamento da sociedade e/ou comportamento humano, mas sim com exercícios e ensinamentos que podem nos ajudar a superar emoções destrutivas e focar naquilo o que realmente importa para nós.
Assim como o empreendedorismo, o estoicismo valoriza a ação, não o debate interminável sobre aspectos que estão fora de nosso controle. Ele se diferencia das outras escolas de filosofia por uma razão bem simples: sua aplicação é extremamente prática, e não deixa muitas “lacunas” para debates intelectuais.
Ele serve para nos tornar empreendedores mais conscientes, amigos mais presentes e seres humanos mais felizes.
Como resume Ryan Holiday, empreendedor e autor do livro sobre estoicismo The Daily Stoic:
“Para aqueles que vivem no mundo real, só existe uma linha filosófica criada para nós: o estoicismo.”
Como praticar o estoicismo
Seria irônico ressaltar a utilidade prática do estoicismo se, no fim das contas, eu não trouxesse alguns exercícios para praticá-lo no dia a dia – especialmente se você é um empreendedor!
Basicamente, pode-se resumir o estoicismo em três práticas fundamentais:
#01 – Praticar o desconfortável
O filósofo e político do século XIV, Michel de Montaigne, costumava pintar um cadáver na sua sala de estar e convidar seus amigos para brindar, em frente à pintura: “beba e seja feliz porque, quando você estiver morto, vai se parecer com isto”.
Obviamente, você não precisa ser tão radical como Montaigne (especialmente se você ainda mora com os seus pais!), mas de acordo com o estoicismo, é fundamental que a pessoa enfrente, com certas frequência, os seus principais medos – seja em uma simulação ou na vida real.
Isso porque se colocar em situações te tornam infeliz é a melhor forma de combater a ansiedade que o medo de estar nelas desencadeia no seu dia a dia.
O próprio Sêneca, que era o conselheiro do imperador Nero e desfrutava de todo o conforto que a vida na corte podia proporcionar, todos os meses se ia para as ruas de Roma e, após passar dias de fome e frio, se perguntava “era isso que eu temia tanto”?
#02 – Mudar sua perspectiva sobre as “coisas ruins”
No estoicismo, tudo é uma oportunidade. O mau humor do seu chefe, o feedback negativo dos seus clientes, um amor não correspondido e todas essas experiências negativas se transformam, através da lente estoica, numa experiência positiva – uma oportunidade para melhorar.
Tal perspectiva explica uma das frases mais famosas do estoicismo, que foi encontrada nos diários do imperador romano Marcus Aurelius:
“O impedimento da ação acelera a ação. O obstáculo se torna o caminho”.
No cenário do empreendedorismo não é difícil imaginar situações em que este exercício de estoicismo pode ser extremamente útil. Quando você recebe um “não” de um cliente importante, por exemplo, você tem duas opções:
- Culpar o cliente, o mundo e a si próprio pelo acontecido;
- Buscar compreender a razão do “não” e, a partir disso, melhorar a sua proposta para os próximos clientes.
Trata-se de mudar a sua perspectiva sobre tudo o que acontece de negativo em sua vida. Ao invés de reagir impulsivamente ao acontecimento, encare como um ensinamento, uma oportunidade para aprender mais.
#03 – Lembrar-se de que tudo isso vai passar
Uma das lições mais polêmicas do estoicismo – e perpetuada por grandes ícones da história – é a importância de relembrar, todos os dias, o quanto somos pequenos.
“Alexandre O Grande e o escravo que guiava a sua mula morreram e a mesma coisa aconteceu com os dois” – Marcus Aurelius
Eu sei, esta prática pode parecer um pouco controvérsia, especialmente quando falamos de empreendedorismo. Afinal, para realizar alguma mudança significativa no mundo, é preciso ter autoconfiança e acreditar que você tem alguma importância, certo?
Para Tim Ferriss, empreendedor, investidor e autor do famoso “Trabalhe 4 Horas Por Semana”, o segredo está no equilíbrio:
“Eu acredito que estoicismo é sobre não se entregar à dor ou se apegar ao prazer. É possível viver plenamente sem esperar que os momentos bons ou ruins durem para sempre, sem achar que em algum momento a sua vida estará completa e imutável.”
Por que eu sou fascinado pelo estoicismo (ou como o estoicismo salvou minha vida)
Eu nasci com glaucoma, uma deficiência na estrutura dos olhos que causa o aumento da pressão ocular, que se não for controlada por colírios e/ou cirurgia, pode levar à cegueira ou perda parcial da visão.
Isso significa que, por ter nascido com Glaucoma, eu não posso fazer uma série de coisas que são “naturais” para a maioria das pessoas, como tirar carteira de motorista, seguir carreira militar ou até mesmo praticar uma série de exercícios anaeróbicos (musculação, CrossFit etc) que podem acelerar a evolução da doença.
Eu não posso falar pelas milhares de pessoas que têm Glaucoma ao redor do mundo, mas eu só encontrei felicidade e paz interior quando percebi que eu não tenho controle sobre o fato de ter nascido com esta doença, mas tenho total controle sobre como eu vou lidar com ela ao longo da minha vida.
Eu posso escolher viver lamentando “por que eu?” e culpando Deus e o mundo por isso, ou eu posso investir a minha energia em entender a doença, o que eu posso fazer para prevenir que ela piore e, quem sabe, até ajudar outras pessoas ao longo do processo.
Além disso, devo confessar que, por ter um perfil bem analítico, o estoicismo também me conquistou devido a sua pegada mais “prática”, sem bullshit e, principalmente, por ser simples de entender, relembrar e ensinar.
Além disso, várias pessoas fodas que eu admiro adotam o estoicismo como filosofia de vida. Só para citar alguns: Ryan Holiday, Tim Ferriss, Elon Musk, Nassim Taleb, Tom Brady e Arnold Schwarzenegger.
Sem falar, é claro, dos líderes históricos que ajudaram a disseminá-lo como Epictetus, Marcus Aurelius, Seneca, Thomas Jefferson e Theodore Roosevelt.
Considerações finais sobre o estoicismo
A Filosofia nasceu na Grécia Antiga como uma forma de explicar a natureza – tanto a física quanto a de nossa própria consciência. Contudo, em algum momento da história este propósito se perdeu e hoje as pessoas a veem (com razão!) como apenas mais uma “matéria do Ensino Médio”.
Experimente começar uma discussão filosófica com alguém e, no mínimo, você será tachado de chato.
Entender e usar o estoicismo é sem dúvidas a melhor forma de quebrar esta mentalidade nas pessoas. Como disse, ele dispensa discussões abstratas e foca naquilo que é prático e comprovadamente eficaz – na dúvida basta observar os milhares de empreendedores e políticos bem sucedidos que usam o estoicismo.
Seja você um empreendedor ou apenas um profissional que quer viver de uma maneira mais equilibrada e feliz, eu espero que este texto tenha lhe apresentado uma ferramenta poderosa para conquistar os seus objetivos.
Você se identifica com o estoicismo ou tem algum amigo que segue esta filosofia, mesmo sem saber?
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Mais uma obra prima, Igor! Obrigado por compartilhar isso <3
Artigo sensacional. Estou lendo o Obstáculo é o Caminho de Ryan Holiday e pesquisando sobre o assunto achei alguns artigos sobre estoicismo, o seu sem dúvidas é o melhor. Obrigado.
No estoicismo estou encontrando uma forma realista de entender a vida e de aproveita-lá melhor.
Gosto muito do Ryan Holiday. Para a idade dele, é parece ser um cara bem evoluído neste sentido. 🙂
O estoicismo é de fato uma filosofia de vida fenomenal. Dá ferramentas que nos ajudam a suportar os percalços da vida, e que também nos ajudam a ser melhores.
PORÉM, eu acho que é também importante fazer ressalvas ao se retratar o estoicismo como “filosofia para ter uma vida de sucesso”. “Sucesso” sendo o termo em questão. Os próprios estóicos ensinam que “sucesso”, ou chegar no alcance de um grande nome do passado ou presente, ou mesmo chegar a qualquer patamar “invejável”, é algo que, em resumo, não podemos controlar e depende do mundo. Claro, podemos navegar em direção ao que queremos, mas ventos podem sempre mudar. Enumerar exemplos de cidadãos de supersucesso e mostrar seus pensamentos estóicos não é suficiente também, pois caímos no viés do sobrevivente, onde não conseguimos ver como pensavam todos os que falharam (alguns destes, estóicos também, com certeza…).
Mas o ponto principal é, assim como o estoicismo pode te ajudar navegar em rumos melhores, ele *também vai te ensinar a sorrir diante dos fracassos*.