Vida

Falamos de jornada, mas é importante também falar das pegadas.

Muitas vezes a gente fica pensando no nosso futuro, fazendo nossos planos para realizar nossos projetos e se distancia do aqui e agora. Pensar no futuro mais do que nunca significa pensar na nossa pegada no planeta. Nosso futuro e nós dependemos da base – a natureza, pois nenhuma economia é possível com um ecossistema falhando.

Aproveitando que dia 22 de setembro é celebrado o dia mundial sem carro, resolvi colocar em palavras o que essa data representa, propor uma reflexão e alguns caminhos de ação. Esse dia significa a gente lembrar que quando a gente anda a pé ou pedala, quase todo mundo ganha. Mas, ganha uma escala local: ganha nosso corpo, que precisa do movimento para poder integrar as experiências e o conhecimento; ganha o comércio local – que se fortalece; e ganha também esse lugar lindo chamada nossa casa: o planeta que nos dá tanto. E o planeta está nos chamando a atenção que ele precisa de um pouco em troca.

Um pouco de números

Existe uma medida chamada Overshot day, que significa o dia do ano que nós consumimos os recursos naturais (água, uso da terra, etc) do planeta que levam um ano para se regenerar. A cada ano esse dia chega mais cedo, o que significa que estamos consumindo mais do que conseguimos “produzir”.

No último século a temperatura aumentou muito: os 15 anos mais quentes ocorreram neste século. As mudanças climáticas  – mudanças climáticas porque alguns lugares aquecem e enquanto esfriam mais do que o usual – são um grande termômetro, literalmente, para dizer que a nossa pegada está pesada demais num planeta tão frágil.  O Acordo de Paris que é um compromisso internacional de medidas para reduzir a nossa pegada relacionada a emissões e com isso tentar para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5o C. Se a terra se aquecer mais do que isso, algumas regiões tem ameaça de até mesmo de desaparecer ou de sofrer sérios danos como é o caso de nações-ilhas como Kiribati, Maldivas e Tuvalu, a regiões costeiras como o Delta do Mekong, Flórida e sul de Bangladesh e cidades costeiras como o Rio de Janeiro, Santos e Recife.

Se a gente mantiver o ritmo do nosso consumo, produção de bens, emissões etc. vamos precisar de 1,7 planetas para dar conta do nosso consumo. Talvez esteja no 22 de setembro a nossa chance de iniciar a tomar (ainda mais) atitudes pelo planeta para reverter essa situação.

Voltando a questão da mobilidade urbana

Essa data tem a ver com mobilidade urbana. Infelizmente nossas cidades no Brasil não possuem uma estrutura de transporte urbano atual e a gente ainda depende muito do carro, mas existem algumas vias de transporte alternativo. Eu pedalo tanto para pequenos deslocamentos quanto como esporte e adoro fazer pequenos deslocamentos a pé. Quando eu pedalo – toda vez – eu lembro da sensação do medo. Pedalar é estar vulnerável, é estar sempre atento. Tirando a sensação do medo, que é aquele frio que sobe na espinha, estar vulnerável e atento é também estar vivo. E às vezes alguém passa e me cumprimenta ou passa bem devagar de carro, demonstrando uma profunda consideração e sinto um profundo respeito. Nessa hora a gente se sente mais humano. Às vezes ouço buzinas (sim, ainda!) e penso: não deve ser comigo, e fico concentrada no pedal, na sensação de liberdade e de vento no rosto. Sei que a gente precisa evoluir muito no respeito ao pedestre e ao ciclista e sei que isso vai com o tempo diminuir minha sensação de medo ao pedalar próximo de um carro, quando acontece quando pedalo fora do Brasil, mas, sei que é só questão de tempo.

Quando eu não estou de carro também vou mais devagar. Significa que presto mais atenção na paisagem, nas árvores, nas pessoas. E eu sinto que às vezes a gente precisa desacelerar. A gente parece estar sempre correndo, atrás de mais, do que está faltando, e por vezes se esquece que a economia existe para servir as pessoas e não ao contrário. E é essa para mim a base de tudo: ser humano. E para se colocar em movimento, basta iniciar em pequena escala, trabalhando consigo mesmo, extrapolando para as pessoas ao redor. 

Agora a bola está com a gente

Listei pequenas atitudes viáveis para agirmos enquanto seres humanos vivendo nessa casa linda, chamada Planeta Terra:

  1. Andar mais a pé e/ou de bicicleta (nem que seja aos finais de semana) – reduz nossa pegada e a rua vai ficando mais segura com mais pessoas circulando
  2. Reduzir a velocidade e respeitar os ciclistas – lembrar que sobre a bicicleta tem uma pessoa como nós
  3. Fazer compras no seu bairro e do comércio local – quanto mais local, menores os deslocamentos e menores as emissões
  4. Reciclar o nosso lixo, reutilizar ou até dispensando o uso dos materiais: começa com o canudo, com a sacola retornável e podemos ir além disso
  5. Se conectando com a sua alimentação: comendo mais alimentos orgânicos, se informando de onde os alimentos vieram, quem os produziu e o quanto viajaram até chegar no nosso prato, reduzindo o consumo de carne

Enfim, parecem atos pequenos, mas quando eles deixam de ser isolados, começam a fazer uma enorme diferença. As nossas escolhas – o comprar e o não comprar – são muito poderosas para poder mudar hábitos ainda maiores e desenvolver produtos, embalagens, soluções, serviços ainda mais amigos do planeta.

As empresas também têm um papel importantíssimo para se engajar nessa mobilização. Um ponto de partida bem interessante é a agenda 2030 ou os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Autoanalisar-se em cada um dos objetivos é um caminho plano e tanto para desenvolver planos de ação.

Para quem quer se aprofundar no tema

Para aqueles que quiserem ir mais fundo, eu me coloco a disposição para continuar essa conversa e ainda sugiro alguns sites bem legais que falam disso:

– O Observatório do Clima que reúne cientistas e brasileiros levantando o cenário brasileiro e mobilizando as pessoas para a ação

– O SEEG que dá um raio X das emissões no Brasil

Drawdown Project: que propõe 100 medidas para reverter o aquecimento global

– No site do Overshot Day medidas em quatro principais frentes são sugeridas: relacionadas a comida, população, cidades e energia.

Por fim, eu te pergunto, já que dia 22 cai num sábado, qual é a sua programação?

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