Vida

Felicidade e Trabalho – Estão juntos ou separados?

Essa história de “ame o que você faz e não precisará trabalhar um dia sequer na sua vida” não cola comigo. Acho que a frase é atribuída a Confúcio, um filósofo chinês, que provavelmente não fazia ideia de que o amor, mesmo pelo trabalho, não paga contas.

Aliás, ele pode até pagar: tem muita gente aí vivendo do que realmente ama e ganhando a maior grana, mas tendo a achar que isso é a exceção, e não a regra. E tudo bem: não é todo mundo que vai jogar dinheiro na nossa mão só porque a gente ama fazer determinada coisa.

Eu, por exemplo, amo assistir a filmes. Mas, se não me especializar em ser crítica literária ou encontrar qualquer outro modelo de negócios que justifique alguém me dar um salário para assistir filmes o dia todo, não vai rolar. Da mesma forma, se eu me meto a abrir um cinema porque amo filmes, mas não estou ligada de todas as responsabilidades que terei ao ser dona de cinema – e vejo, então, que meu amor é só a pontinha do iceberg –, corro o risco de viver frustrada.

Mas, Laís, a Profissas não vive falando sobre encontrar seu propósito e ser o profissional mais humano e feliz possível por causa dele?

Sim, a gente acredita muito nisso, mas não é porque estamos em busca de um propósito que vamos disseminar a ladainha de que, quando se faz o que ama, não é preciso trabalhar. Ao contrário: é justamente aí que você tem que ser ainda mais responsável e trabalhar com cada vez mais afinco, pois a felicidade profissional reside, muitas vezes em deixar um legado.

Então, antes de comprar a frase do Confúcio – que, com todo respeito, não se aplica muito bem à realidade dos dias atuais –, tente ir por outro mantra das novas gerações e que faz muito sentido para que você alcance sua própria felicidade no trabalho: o sucesso exige 99% de transpiração e 1% de inspiração.

Não é amar o que faz que vai te livrar de suar a camisa. Ao invés disso, seu amor vai te deixar ainda mais próximo dela.

Felicidade x Propósito

Esse negócio de ser feliz é muito filosófico e complicado, porque a gente rala a vida toda “pra ser feliz” e, quando a gente tem tudo, ainda não está feliz por completo. É do ser humano não se sentir satisfeito e buscar sempre mais, o que nos faz entender que a felicidade é o que o clichê diz que ela é: não o destino, mas o caminho.

Um trabalho que te traga felicidade não é aquele fácil ou que você ame de paixão, mas que te desafie nas coisas que você quer aprender, onde você tenha colegas que te respeitem e superiores que te valorizam. Nesse tipo de trabalho, quando as dificuldades surgirem, elas não vão te deixar infeliz, mas alerta.

Alguns dias podem até ser desesperadores, mas a sensação de missão cumprida vai bater forte no fim do dia, sem que você precise ser apaixonado pelas suas tarefas de rotina.

Um advogado, por exemplo, dificilmente dirá que sua maior paixão é realizar divórcios, tirar dinheiro dos outros ou botar gente na cadeia. Portanto, não é pelo fim que o advogado é apaixonado, e sim pelo meio: sua gana por justiça, pelo conhecimento constante, pela formulação das leis faz com que ele se sinta feliz em ajudar o próximo.

Mas, na real, isso não é felicidade, propriamente dita, e sim propósito: quando um advogado realiza um divórcio, consegue uma boa indenização para seu cliente ou um mandato de prisão para alguém, sua satisfação está em seu propósito, que é operar com base na justiça. Se tiver feito tudo de maneira ética e pensando no bem estar de quem o contratou, a cabeça no travesseiro será sempre leve. O propósito foi vivido. A felicidade pode ser sentida.

Esse exemplo do advogado é só para ilustrar que, às vezes, paixão pelo que a gente faz não é exatamente aquilo que a gente pensa, e muitas vezes buscamos o propósito, e não a felicidade em si.

Minha mãe foi advogada a vida toda e nunca se sentiu realmente feliz com a profissão, embora tenha sentido o chamado, porque dizia que “não dá pra ser feliz quando os outros só te procuram com problemas”. Hoje ela é aposentada e, apesar de advogar – muito bem –, ela também faz artesanato. Nesse último ela junta tanto propósito que dá pra vê-la feliz ao exibir uma arte nova.

Felicidade, então, é viver o propósito em ambientes que te respeitem como profissional e ser humano. Mesmo nos ambientes considerados mais “chatos”, se houver vontade de trabalhar, há momentos de felicidade.

Ser feliz fora do trabalho

Mas tem gente que vai ler esse texto e falar que não é feliz no trabalho porque não tem um propósito claro para ele. Tudo bem, também. Nesse caso, duas são as possibilidades de mudar o rumo da vida:

  1.     Procurar um trabalho onde possa viver plenamente seu propósito e, assim, ter mais momentos de alegria do que de tristeza;
  2.     Encher a vida pessoal de alegrias para que aguentar o trabalho do qual não se pode sair agora faça algum sentido.

Se a primeira opção te interessa mais, nosso blog está repleto de dicas para construir o propósito e seguir em frente na labuta. Mas se é a segunda opção que te parece mais factível agora, o primeiro passo é inspirar, expirar e não pirar.

Se o seu trabalho é um saco, o seu chefe é chato, mas você tem inúmeros motivos (plausíveis, não desculpas) pelos quais não pode abrir mão dele agora, é preciso transformar todo esse esforço em metas claras de vida. “Estou trabalhando para comprar uma casa”, “um carro”, “pagar o melhor colégio para meus filhos”,  “fazer a viagem dos sonhos”, “morar fora em dois anos” são formas de encontrar, na sua vida pessoal, um propósito para dar um gás a mais naquele emprego que não te fortalece.

É claro que essa não é a melhor alternativa – mas, pra muita gente, é o que tem pra hoje. A crise, o mercado saturado ou o medinho de dar o próximo passo e empreender de uma vez (que pode ser uma boa escolha, se bem planejada) podem acabar prendendo a gente em um emprego não tão legal. Mas, se colocarmos metas para o que vem dele e, se possível, até para sair dele, o trabalho vai te gerar menos infelicidade, pois você vai focar no que ele te traz de bom.

Ah, e aqui vai uma dica: falar que está nesse trabalho “pra pagar boletos” que vem de coisas materiais ou inúteis para você não é um meio de achar a finalidade de aguentar o tranco, e sim mais uma desculpa. Coisas materiais dificilmente preenchem a vida e, se você continuar gastando com elas, andará sempre em círculos.

O conceito de ser feliz vem das experiências e enquanto as experiências acontecem – e é exatamente por isso que você deve levá-la em consideração. Caso contrário, “felicidade” e “trabalho” serão palavras tão distantes na sua vida quanto estão no dicionário.

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