Após anos de lutas por igualdade e direitos de grupos sub-representados, finalmente, as pautas de diversidade e inclusão estão ganhando mais espaço na sociedade.
É claro que ainda temos um longo caminho pela frente, mas poder discutir sobre esses temas ajuda a combater a desinformação e o preconceito que se instauraram por anos.
Diante desse cenário, onde as disparidades sociais são faladas mais abertamente, surgem alguns termos que podem ajudar na reflexão sobre as mudanças nas relações.
É aí que surgem conceitos como “lugar de fala” e “representatividade”.
Embora sejam confundidos e até utilizados como sinônimas, os dois termos têm sua essência própria.
Entender a diferença entre eles é fundamental para se posicionar e construir uma sociedade mais igualitária.
Lugar de fala: o que isso significa?
Será que o homem pode falar de pautas feministas? Quem não pertence ao movimento LGBTQIA+ tem autoridade para discutir ideologia de gênero? Brancos podem levantar bandeiras negras?
A proposta da teoria do conceito referente ao “lugar de fala” diz que não.
No entanto, é preciso entender o seu significado para não espalhar inverdades por aí.
Esse conceito se popularizou no Brasil com o livro da escritora Djamila Ribeiro que define o termo ao local de fala do enunciador.
Ela propõe uma análise sobre qual é a realidade social, financeira e pessoal do interlocutor ao proferir um discurso sobre determinada pauta.
Dessa maneira, um indivíduo com boas condições financeiras, que nunca experimentou a pobreza, não tem respaldo para falar com propriedade sobre a situação da miséria, embora conviva, de certa forma, com as consequências dela e da desigualdade social.
Para Djamila, quando essa pessoa aborda o assunto, de qual lugar pronuncia seu discurso?
A proposta do lugar de fala é que cada pessoa enxerga o mundo e os problemas da vida de diferentes perspectivas. Ou seja, as interpretações são baseadas nas experiências de cada um.
De maneira geral, a ideia do lugar de fala é oferecer visibilidade a sujeitos cujas ideias foram desconsideradas durante muito tempo.
Ao tratarmos de pautas específicas, como racismo e machismo, pessoas negras e mulheres possuem lugar de fala nesse debate, uma vez que oferecem uma visão que pessoas brancas e homens não conseguem ter.
Isso não quer dizer que um homem não possa falar sobre o preconceito contra mulheres no mercado de trabalho, por exemplo.
Como cidadãos participantes de uma sociedade, todos temos direito de opinar, perguntar, aprender e exercer poder para a geração de igualdade.
Contudo, não se deve assumir o protagonismo de um movimento que não lhe pertence. Isso é, se você é branco e, por isso, nunca foi discriminado pela cor, não queira tomar o papel de quem realmente sofre com o racismo.
E o conceito de representatividade, onde entra?
Se o termo “lugar de fala” diz respeito à busca pelo reconhecimento de determinada pauta, a representatividade coloca como protagonista do debate quem de fato é o personagem ativo da história.
Ou seja, aquela pessoa que vai falar por todo um segmento ou grupo.
Isso quer dizer que, quando tratamos do feminismo, por exemplo, quem deve liderar o debate são aquelas envolvidas na questão: mulheres brancas, pretas, indígenas, com e sem deficiência, lésbicas, bi e trans.
Os homens não só podem como devem participar da conversa. Contudo, as pautas são sempre levantadas pelas mulheres.
A autora Djamila Ribeiro explica bem essa situação em um trecho do seu livro:
“Uma travesti negra pode não se sentir representada por um homem branco cis (ou seja, aquele que se identifica com o gênero de nascença), mas esse homem branco cis pode teorizar sobre a realidade das pessoas trans e travestis a partir do lugar que ele ocupa. Acreditamos que não pode haver essa desresponsabilização do sujeito do poder. A travesti negra fala a partir de sua localização social, assim como o homem branco cis. Se existem poucas travestis negras em espaços de privilégio, é legítimo que exista uma luta para que elas, de fato, possam ter escolhas numa sociedade que as confina num determinado lugar, logo é justa a luta por representação, apesar dos seus limites.”
Embora lugar de fala e representatividade andem juntos, como vimos, os conceitos são diferentes – e devem, cada um, ter seu peso e sua medida nos debates rumo à igualdade. Por isso, entender o viés dos termos e praticá-los no mercado de trabalho, com o objetivo de incentivar a diversidade e inclusão no meio corporativo, é essencial ao debate frutífero.
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