Os padrões rodeiam a nossa sociedade desde que o mundo é mundo. Por meio de ideias e estereótipos, somos moldados a acreditar e ainda multiplicar conceitos tidos como verdades absolutas, que se fixam em nosso inconsciente.
Um exemplo disso são as “brincadeiras” deselegantes que as mulheres, quase sempre, são obrigadas a ouvir sobre a sua habilidade de dirigir – ou, no bom português, a expressão machista de que essa não é uma coisa que mulher consiga fazer sem colocar todo mundo em perigo. A aceitação desse tipo de padrão permeia o inconsciente coletivo, que enxerga a situação como algo “normal”.
Contudo, a prática diz o contrário, desmentindo a preconceituosa frase “mulher ao volante é um perigo constante”. Uma pesquisa realizada pelo Infosiga SP no final de 2020 apontou que apenas 6,3% dos acidentes registrados no estado de São Paulo foram ocasionados por mulheres, sendo 16 vezes menor que o número de acidentes provocados pelo público masculino.
É com esse exemplo de preconceito esdrúxulo, porém enraizado na cultura popular, que abrimos a conversa sobre vieses inconscientes, especialmente os que estão presentes no seu, no meu e no nosso ambiente de trabalho.
O que são vieses inconscientes?
Vieses inconscientes são preconceitos baseados em estereótipos de gênero, classe, orientação sexual, religião, idade e outros, tendo em vista julgamentos e pensamentos relacionados a experiências passadas e armazenadas no cérebro.
Em outras palavras, são crenças incorporadas ao nosso cotidiano que ditam comportamentos como se fossem “naturais”, mas afetam as relações, e, muitas vezes, a gente nem percebe que isso acontece.
Todas as pessoas possuem os seus vieses inconscientes e tendem a criar conceitos pré-concebidos dos outros sem que se saiba nada a respeito desses indivíduos. Contudo, fazer qualquer tipo de julgamento generalizado causa atritos, principalmente no ambiente de trabalho, já que isso prejudica os processos de recrutamento e retenção, afeta a cultura organizacional e interfere no desenvolvimento das ações de diversidade e inclusão dentro da empresa.
Tipos de vieses inconscientes
Os vieses inconscientes estão tão enraizados em nossa cultura que impactam em todos os processos corporativos, desde a gestão de pessoas até as tomadas de decisões.
Quantos casos já ouvimos ou presenciamos de mulheres que foram silenciadas em reuniões ou de pessoas preteridas ao cargo de chefia devido à sua orientação sexual?
Embora o cenário esteja mudando, os vieses inconscientes ainda causam grandes impactos nas organizações, podendo ser exemplificadas em 5 tipos:
Viés inconsciente por afinidade
Esse tipo de viés acontece quando avaliamos de maneira mais empática indivíduos que tenham características que se aproximam mais da gente, como cor, gênero, idade, história de vida, etc.
Então, se existe um embate em que não há argumentos lógicos para a decisão, a escolha pode ser por intuição ou afinidade, gerando, na maioria das vezes, decisões mal calculadas e equivocadas, o que vai prejudicar o clima na equipe.
Viés inconsciente por percepção
Esse ocorre quando há um reforço do estereótipo definido pela cultura à qual estamos inseridos, passando por conceitos sem nenhum tipo de embasamento, como não promover negros para cargos elevados, excluindo deles a oportunidade de crescer profissionalmente e mostrar o seu trabalho.
Viés inconsciente confirmatório
O viés confirmatório acontece quando procuramos informações que confirmem a nossa tese inicial, rejeitando os que pensam o contrário. Com isso, a pessoa busca fatos que atestem a sua crença, ratificando ainda mais o preconceito e o estereótipo.
Um exemplo é a avaliação de currículo cujo candidato já passou por várias empresas e ficou pouco tempo em cada uma delas, levando o profissional a ser descartado. Nesse cenário, devido ao senso comum, ele pode não ter comprometimento.
Viés inconsciente de auréola
Trata-se de superestimar indivíduos que tenham características que julgamos positivas, ignorando outros atributos que também são importantes. Esse viés traz uma maior permissividade em relação aos defeitos do profissional, como se os seus pontos fortes ofuscassem os negativos.
Um exemplo é o profissional que é um excelente negociador, criativo e persuasivo, conseguindo fechar valiosos contratos para a organização. Por outro lado, é arrogante e tem atitudes de perseguição com membros da equipe.
Viés inconsciente de grupo
Esse viés apresenta uma tendência do indivíduo em pensar e seguir o comportamento da maioria. Afinal, quem pensa diferente, muitas vezes, é repreendido, assumindo uma postura de aceitar e se adaptar, de maneira forçada, à decisão do grupo.
O que fazer para diminuir os impactos do viés inconsciente?
Identificar o viés inconsciente não é tarefa fácil, já que estamos acostumados com os conceitos e quase nunca questionamos o quão absurdos eles são.
Contudo, é preciso sempre avaliar o cenário todo e não se deixar levar pelos estereótipos construídos em nossa mente. Simples não é, mas existem algumas práticas que podem ajudar a diminuir os impactos causados pelos vieses inconscientes no ambiente de trabalho:
Trabalhe conceitos de diversidade e inclusão
Está muito em alta a promoção da diversidade e inclusão nas organizações, a partir da contratação de profissionais que até então estavam fora do perfil da empresa. No entanto, não basta admitir candidatos negros, LGBTQIA+, deficientes físicos e refugiados, entre outros, se não preparar a empresa para tal inclusão.
É preciso investir em treinamentos que abordam a conscientização, preparando um ambiente diverso e acolhedor para todos, além de adaptar o espaço físico para receber pessoas com as mais diferentes necessidades.
Invista em comunicação
Nada como uma boa comunicação para garantir que a mesma informação chegue a todos. Para que os colaboradores se sintam acolhidos e confortáveis no ambiente de trabalho, é preciso criar canais de feedback onde eles possam dar ideias, desenvolver ações e identificar pontos de melhoria.
Compartilhamento de experiências
Promover interações entre as equipes é uma importante ação para que todos se conheçam e compartilhem histórias e experiências. Essa é uma forma de estimular a aceitação, compreensão e respeito mútuo.
O viés inconsciente existe em todo mundo e talvez seja muito difícil acabar com ele a curto prazo. Afinal, tratam-se de percepções que são passadas por gerações, enraizando conceitos em nossas mentes e no seio da nossa cultura. Mas, com esforço e um olhar empático com o próximo, é possível reverter a situação.
Para saber mais sobre esse e outros assuntos ligados ao ambiente de trabalho, acompanhe o blog Profissas e fique por dentro das novidades.