(Spoiler alert: é uma mistura dos dois, mas a segunda opção é mais importante. Se você quiser ler a historinha abaixo, vai chegar à explicação.)
Era uma vez uma menina que só não nasceu grudada em um livro porque o útero é um lugar bastante inóspito para pedaços de papel. Mas, assim que ganhou a luz e viu o mundo, traçou cada engatinhada rumo às histórias escritas que a estante guardava.
Aos cinco ou seis anos ganhou seu primeiro livro de sebo, “Ali Babá e os 40 Ladrões”. Já alfabetizada, pediu outro. E outro. Decidiu que o melhor presente que poderia ganhar era livro. Da leitura passou à escrita. Aos 7 anos escreveu seu primeiro livrinho, na escola. Aos 9 colecionava cadernos que contavam suas próprias histórias. Aos 11, leu “Éramos Seis”. Aos 12, já tinha uma vasta biblioteca em casa.
Aos 16, foi oradora da sua turma na formatura do terceiro ano. Tirou boas notas nas redações dos vestibulares que prestou. As palavras que tinha lido durante toda a sua vida foram fazendo morada dentro dela mesma e, cada vez que saíam, pareciam emocionar alguém. Por isso, a menina fez jornalismo, sempre ouvindo que tinha o dom para escrever, mas nunca se esquecendo de que, antes da escrita, vem a leitura.
Quinze anos se passaram e essa menina, hoje, escreve para a internet. Tem um blog de séries, que raramente consegue sua atenção, já que a rotina de trabalho como redatora de conteúdo em sua própria empresa não faz sobrar muito tempo para assistir as séries que adora. Está atrasada em exatos mil, cento e onze episódios – e levará uns bons anos para colocar tudo isso em dia.
Essa moça da história trabalha como gestora de conteúdo na Profissas, entre as milhares de outras coisas que faz.
Não se sabe se a história que começou com um “era uma vez” terminará com “e foi feliz para sempre”, mas por sua experiência de leitora ela consegue prever que há grandes possibilidades de não haver surpresas no final. O plot twist, geralmente, acontece antes, ali na meiuca do enredo. Mas, só por via das dúvidas, ela trabalha – sempre escrevendo, sempre lendo – para garantir que, ao fim do conto, ela não vai se dar mal.
Você acabou de ler, em seis parágrafos, a história da minha vida, e de como eu vim parar aqui falando sobre escrever – e se isso é dom ou técnica.
A cada linha que eu escrevo e que merece a leitura e o feedback de alguém, tendo a acreditar nessa coisa do dom. Talvez eu tenha, mesmo, nascido para isso. Venho de uma família em que o pai é leitor voraz, a mãe não se liga muito em literatura e o irmão também não tem atração pelas estantes. Talvez o tal “dom” seja uma questão genética. Talvez ele seja uma grande falácia.
Porque, na real, quando olho em perspectiva para o meu passado e vejo como foi que me construí em uma redatora e aspirante a escritora, só vejo técnica, desde a minha alfabetização.
Na escolinha em que eu estudava as professoras ensinavam os alunos do terceiro período a ler em uma cartilha chamada “O Sonho de Talita”. Uma das lembranças mais vívidas da minha infância é a espera por chegar a minha vez de lê-la e, ao ir para o terceiro ano do jardim, com mais ou menos seis anos de idade, ficar eufórica por ter, finalmente, a tal cartilha em mãos.
Lembro-me como se fosse ontem da tia Nicinha me ensinando que “b com a é ba” e eu tentando juntar todas as letras de todas as placas, livros, capas de discos de vinil.
Olhando pelo retrovisor, o que vejo foram uns vinte e cinco anos de tentativa de ler, compreender e interpretar o que estava à minha frente. Se hoje escrevo e, com isso, impacto, emociono ou entedio alguém, isso é fruto de todos esses anos de treinamento, tentativa e erro.
Portanto, se eu tenho o dom, posso te assegurar: ele só se manifestou por causa da técnica. É por isso que acredito piamente que qualquer pessoa possa escrever qualquer coisa, desde que pratique essa habilidade. Com o tempo, fica mais fácil, rápido e intuitivo escrever sobre qualquer tema.
Difícil, mesmo, é lidar com as frustrações que a escrita traz: quanto mais técnica você tem, mais o sarrafo das suas expectativas sobem. Você começa a ler um livro e deseja que tivesse sido você a escrevê-lo – ou percebe que seus ídolos não são tão ídolos assim quando não se expressam da forma que passa a te ser mais conveniente.
Também dói um pouquinho perceber que tudo o que há pra dizer já foi escrito e que, bem ou mal, nossas palavras são acontecimentos em looping infinito. Mas é exatamente nessa hora que, ao invés de baixar a cabeça, a gente busca o aperfeiçoamento e as esperanças se renovam.
“Um dia vou escrever mais, vou escrever melhor e vou ser brilhante no que faço” é o pensamento não de quem tem dom, mas de quem tem técnica e pratica sua habilidade.
Afinal, ter o dom significa, apenas, ter um dom: ter uma voz bonita para canto lírico só vai ser uma vantagem se você treinar canto lírico, se estudar arduamente essa atividade e enxergar, nela, um propósito para sua vida. Se não, você vai morrer sem ter cantado nenhuma vez. De que serve o “dom” se você não o coloca em prática?
Dito isso, o que quero com esse texto é te convidar para participar de nosso curso de escrita criativa para falar de dom, de técnica e de como essas duas coisas auxiliam a gente a escrever criativamente para a internet. Então, é claro, falaremos também de criatividade, de arquitetura de um texto, de leitura. Muita leitura.
Portanto, se você tem o “dom da leitura” (o que significa ser minimamente alfabetizado e ter, pelo menos, interesse em interpretar textos), está recrutado para passar o dia com a gente e nos ajudar a salvar a internet, um texto por vez.
Gosto de dizer que a história, comece ela com “era uma vez” ou não, costuma ser muito mais gentil com quem a escreve. E não há hora melhor para começar a escrevê-la do que agora.
Já quero participar desse convite para escrita criativa!
Como fazer?
P.s. Uma parte de sua autobiografia me intrigou.. vc não tem momentos de lazer ou quando os têm utiliza-os de outras maneiras sem ser colocando suas séries em dias?rs
Ou talvez vc seja uma workaholic?rs
Oi, Alessandra!
Sua pergunta foi profunda e me fez refletir por algum tempo… hahahaha
Com risco de chover no molhado, vou te dizer que meus momentos de lazer são feitos de histórias: quando não estou lendo (livros, blogs, as redes sociais de amigos), ou ouvindo uma (conversas com amigos e família, idas ao teatro ou cinema), estou criando as minhas próprias. Já, já começo a contá-las para o mundo. 😉
Eu passo cerca de oito horas por dia lendo e/ou escrevendo, não me considero workaholic porque coloco alguns limites muito específicos entre trabalho “formal” (com comunicação) e “informal” (literatura), mas posso dizer que respiro palavras e não me imagino fazendo qualquer outra coisa.
Arrisco dizer, inclusive, que escrever é a única coisa que sei fazer.
Sobre o convite da escrita criativa, agora não temos previsões de cursos presenciais, mas o curso online tá aqui no site da Profissas, na aba cursos! O link direto tá no meu nome.
Espero que goste. Depois me conta. 😉
Um abraço!
Amei o seu texto e a paixão que escorre dele… Parabéns pelo site e estou super curiosas pelo curso de escrita criativa. Espero conseguir me expressar assim também… 😀
Oi Andressa! Que bom que curtiu tanto. Depois nos conte o que achou do curso também. Ter esse feedback é muito rico pra gente 🙂
Encontrei vocês e uma alegria imensa se fez em meu coração! Quero sim fazer parte desse mundo de escritas, sejam criativas, sejam técnicas , ou sejam informativas! Ou , que venham todas! Prazer em conhece-los!
…. Parabéns pelo genuíno texto. Encorajamento e esclarecimentos que somos responsáveis pelo realização de nosso sonho.